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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 467<br />

mento de si mesma está no modo do Eu, pode ser apreendi<strong>da</strong><br />

no modo do Tu e, através disso, no modo do "Se"? O<br />

primeiro dos objetos culturais é aquele pelo qual eles todos<br />

existem, é o corpo de outrem enquanto portador de um comportamento.<br />

Quer se trate dos vestígios ou do corpo de outrem,<br />

a questão é saber como um objeto no espaço pode<br />

tornar-se o rastro falante de uma existência, como, inversamente,<br />

uma intenção, um pensamento, um projeto podem<br />

separar-se do sujeito pessoal e tornar-se visíveis fora dele em<br />

seu corpo, no ambiente que ele se constrói. A constituição<br />

de outrem não ilumina inteiramente a constituição <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,<br />

que não é uma existência a dois ou mesmo a três, mas<br />

a coexistência com um número indefinido de consciências.<br />

To<strong>da</strong>via, a análise <strong>da</strong> percepção de outrem reencontra a dificul<strong>da</strong>de<br />

de princípio que o mundo cultural suscita, já que ela<br />

deve resolver o paradoxo de uma consciência vista pelo lado<br />

de fora, de um pensamento que reside no exterior, e que portanto,<br />

comparados à minha consciência e ao meu pensamento,<br />

já são anônimos e sem sujeito.<br />

A este problema, aquilo que dissemos sobre o corpo traz<br />

um começo de solução. Para o pensamento objetivo, a existência<br />

de outrem representa dificul<strong>da</strong>de e escân<strong>da</strong>lo. Se os<br />

acontecimentos do mundo são, segundo a expressão de Lachelier,<br />

um entrelaçamento de proprie<strong>da</strong>des gerais e encontram-se<br />

na intersecção de relações funcionais que permitem,<br />

em princípio, terminar sua análise, e se o corpo na ver<strong>da</strong>de<br />

é uma província do mundo, se ele é este objeto do qual o<br />

biólogo me fala, esta conjunção de processos dos quais encontro<br />

a análise nas obras de fisiologia, este aglomerado de<br />

órgãos dos quais encontro a descrição nas gravuras de anatomia,<br />

então minha experiência só poderia ser o face a face<br />

entre uma consciência nua e o sistema de correlações objetivas<br />

que ela pensa. O corpo de outrem, assim como meu próprio<br />

corpo, não é habitado, ele é objeto diante <strong>da</strong> consciência

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