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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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314 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

ao problema <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de dos sentidos. Ela não se compreenderá<br />

por sua subsunção a uma consciência originária, mas<br />

por sua integração nunca acaba<strong>da</strong> em um único organismo<br />

cognoscente. O objeto intersensorial está para o objeto visual<br />

assim como o objeto visual está para as imagens monoculares<br />

<strong>da</strong> diplopia 60 , e na percepção os sentidos se comunicam<br />

assim como na visão os dois olhos colaboram. A visão dos<br />

sons ou a audição <strong>da</strong>s cores se realizam como se realiza a uni<strong>da</strong>de<br />

do olhar através dos dois olhos: enquanto meu corpo<br />

é não uma soma de órgãos justapostos, mas um sistema sinérgico<br />

do qual to<strong>da</strong>s as funções são retoma<strong>da</strong>s e liga<strong>da</strong>s no<br />

movimento geral do ser no mundo, enquanto ele é a figura<br />

imobiliza<strong>da</strong> <strong>da</strong> existência. Há um sentido em dizer que vejo<br />

sons ou que ouço cores, se a visão ou a audição não são a<br />

simples posse de um quale opaco, mas a experiência de uma<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência, a sincronização de meu corpo a ela,<br />

e o problema <strong>da</strong>s sinestesias recebe um começo de solução<br />

se a experiência <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de é a de um certo modo de movimento<br />

ou a de uma conduta. Quando digo que vejo um som<br />

quero dizer que, à vibração do som, faço eco através de todo<br />

o meu ser sensorial e, em particular, através desse setor de<br />

mim mesmo que é capaz <strong>da</strong>s cores. O movimento, compreendido<br />

não como movimento objetivo e deslocamento no espaço,<br />

mas como projeto de movimento ou "movimento virtual"<br />

61 , é o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de dos sentidos. É bastante<br />

conhecido que o cinema falado não apenas acrescenta ao<br />

espetáculo um acompanhamento sonoro, ele modifica o teor<br />

do próprio espetáculo. Quando assisto à projeção de um filme<br />

dublado em francês, não somente constato o desacordo<br />

entre a fala e a imagem, mas repentinamente me parece que<br />

ali se diz outra coisa, e, enquanto a sala e meus ouvidos são<br />

preenchidos pelo texto dublado, para mim ele não tem existência<br />

nem mesmo auditiva, e só tenho ouvidos para esta outra<br />

fala sem ruídos que vem <strong>da</strong> tela. Quando subitamente uma

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