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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 521<br />

mento. É por isso que fomos levados a distinguir entre uma<br />

fala secundária, que traduz um pensamento já adquirido, e<br />

uma fala originária, que o faz primeiramente existir para nós<br />

mesmos assim como para outrem. Ora, to<strong>da</strong>s as palavras que<br />

se tornaram os simples índices de um pensamento univoco<br />

só puderam fazê-lo porque em primeiro lugar funcionaram<br />

como falas originárias, e nós ain<strong>da</strong> podemos recor<strong>da</strong>r-nos do<br />

aspecto precioso que elas tinham, como uma paisagem desconheci<strong>da</strong>,<br />

quando as estávamos adquirindo e quando elas<br />

ain<strong>da</strong> exerciam a função primordial <strong>da</strong> expressão. Assim, a<br />

posse de si, a coincidência consigo não é a definição do pensamento:<br />

ao contrário, é um resultado <strong>da</strong> expressão e é sempre<br />

uma ilusão, na medi<strong>da</strong> em que a clareza do saber adquirido<br />

repousa na operação fun<strong>da</strong>mentalmente obscura pela<br />

qual eternizamos, em nós, um momento de vi<strong>da</strong> fugidio. Somos<br />

convi<strong>da</strong>dos a reconhecer, sob o pensamento que goza de<br />

suas aquisições e é apenas uma para<strong>da</strong> no processo indefinido<br />

<strong>da</strong> expressão, um pensamento que procura estabelecer-se<br />

e que só o consegue cedendo a um uso inédito os recursos<br />

<strong>da</strong> linguagem constituí<strong>da</strong>. Essa operação deve ser considera<strong>da</strong><br />

como um fato último, já que to<strong>da</strong> explicação que dela se<br />

quisesse <strong>da</strong>r — seja a explicação empirista, que reduz as significações<br />

novas às significações <strong>da</strong><strong>da</strong>s, seja a explicação idealista,<br />

que põe um saber absoluto imanente às primeiras formas<br />

do saber — consistiria em suma em negá-la. A linguagem<br />

nos ultrapassa, não apenas porque o uso <strong>da</strong> fala sempre<br />

supõe um grande número de pensamentos que não são atuais<br />

e que ca<strong>da</strong> palavra resume, mas ain<strong>da</strong> por uma outra razão,<br />

mais profun<strong>da</strong>: a saber, porque esses pensamentos, em sua<br />

atuali<strong>da</strong>de, jamais foram "puros" pensamentos, porque neles<br />

já havia excesso do significado sobre o significante, e o<br />

mesmo esforço do pensamento pensado para igualar o pensamento<br />

pensante, a mesma junção provisória entre um e outro<br />

que faz todo o mistério <strong>da</strong> expressão. Aquilo que chamam

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