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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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26 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

metemos o que os psicólogos chamam de "experience error",<br />

quer dizer, supomos de um só golpe em nossa consciência <strong>da</strong>s<br />

coisas aquilo que sabemos estar nas coisas. Construímos a percepção<br />

com o percebido. E, como o próprio percebido só é<br />

evidentemente acessível através <strong>da</strong> percepção, não compreendemos<br />

finalmente nem um nem outro. Estamos presos ao<br />

mundo e não chegamos a nos destacar dele para passar à consciência<br />

do mundo. Se nós o fizéssemos, veríamos que a quali<strong>da</strong>de<br />

nunca é experimenta<strong>da</strong> imediatamente e que to<strong>da</strong> consciência<br />

é consciência de algo. Este "algo" aliás não é necessariamente<br />

um objeto identificável. Existem duas maneiras<br />

de se enganar sobre a quali<strong>da</strong>de: uma é fazer dela um elemento<br />

<strong>da</strong> consciência, quando ela é objeto para a consciência,<br />

tratá-la como uma impressão mu<strong>da</strong> quando ela tem sempre<br />

um sentido; a outra é acreditar que este sentido e esse<br />

objeto, no plano <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de, sejam plenos e determinados.<br />

E o segundo erro, assim como o primeiro, provém do prejuízo<br />

do mundo. Nós construímos, pela ótica e pela geometria,<br />

o fragmento do mundo cuja imagem pode formar-se a ca<strong>da</strong><br />

momento em nossa retina. Tudo aquilo que está fora desse<br />

perímetro, não se refletindo em nenhuma superfície sensível,<br />

não age sobre nossa visão mais do que a luz em nossos olhos<br />

fechados. Deveríamos portanto perceber um segmento do<br />

mundo contornado por limites precisos, envolvido por uma<br />

zona negra, preenchido sem lacunas por quali<strong>da</strong>des, apoiado<br />

em relações de grandeza determina<strong>da</strong>s como as que existem<br />

na retina. Ora, a experiência não oferece na<strong>da</strong> de semelhante<br />

e nós nunca compreenderemos, a partir do mundo,<br />

o que é um campo visual. Se é possível desenhar um perímetro<br />

de visão aproximando pouco a pouco os estímulos laterais do<br />

centro, os resultados <strong>da</strong> mensuração variam de um momento<br />

ao outro e nunca se chega a determinar o momento em<br />

que um estímulo inicialmente visto deixa de sê-lo. Não é fácil<br />

descrever a região que rodeia o campo visual, mas é certo

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