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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 353<br />

mo modo que definimos acima o "direito" e o "oblíquo":<br />

pela situação do objeto em relação à potência de apreensão.<br />

Foram sobretudo as ilusões referentes à profundi<strong>da</strong>de que<br />

nos habituaram a considerá-la como uma construção do entendimento.<br />

Pode-se provocá-las impondo aos olhos um certo<br />

grau de convergência, como no estereoscópio, ou apresentando<br />

ao sujeito um desenho perspectivo. Visto que aqui acredito<br />

ver a profundi<strong>da</strong>de quando ela não existe, não seria porque<br />

os signos enganadores foram a ocasião de uma hipótese,<br />

e porque em geral a pretensa visão <strong>da</strong> distância é sempre uma<br />

interpretação de signos? Mas o postulado é manifesto; supõese<br />

que não é possível ver aquilo que não é, define-se então<br />

a visão pela impressão sensorial, perde-se a relação original<br />

de motivação, substituí<strong>da</strong> por uma relação de significação.<br />

Vimos que a dispari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens retinianas que o movimento<br />

de convergência suscita não existe em si; só existe dispari<strong>da</strong>de<br />

para um sujeito que procura fundir os fenômenos<br />

monoculares de mesma estrutura e que tende à sinergia. A<br />

uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> visão binocular, e com esta a profundi<strong>da</strong>de sem<br />

a qual ela não é realizável, está ali então desde o momento<br />

em que as imagens monoculares se apresentam como "disparates".<br />

Quando me ponho no estereoscópio, propõe-se um<br />

conjunto em que a ordem possível já se desenha e a situação<br />

se esboça. Minha resposta motora assume essa situação. Cézanne<br />

dizia que o pintor, diante de seu "motivo", vai "encontrar-se<br />

com as mãos errantes <strong>da</strong> natureza" 26 . O próprio<br />

movimento de fixação no estereoscópio é uma resposta à questão<br />

posta pelos <strong>da</strong>dos, e essa resposta está envolvi<strong>da</strong> na questão.<br />

E o próprio campo que se orienta em direção a uma simetria<br />

tão perfeita quanto possível, e a profundi<strong>da</strong>de é apenas<br />

um momento <strong>da</strong> fé perceptiva em uma coisa única. O<br />

desenho perspectivo não é percebido primeiramente como desenho<br />

em um plano, depois organizado em profundi<strong>da</strong>de. As<br />

linhas que fogem para o horizonte não são <strong>da</strong><strong>da</strong>s em primei-

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