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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 67<br />

distingue do conceito este conhecimento ain<strong>da</strong> preso a seu objeto,<br />

inerente a um ponto do tempo e do espaço. Mas a reflexão<br />

mostra que ali na<strong>da</strong> há para se compreender. E um fato<br />

que primeiramente eu me creio circun<strong>da</strong>do por meu corpo,<br />

preso ao mundo, situado aqui e agora. Mas ca<strong>da</strong> uma dessas<br />

palavras, quando reflito nelas, é desprovi<strong>da</strong> de sentido e não<br />

coloca então nenhum problema: eu me perceberia "circun<strong>da</strong>do<br />

por meu corpo" se eu não estivesse nele tanto quanto<br />

em mim, se eu mesmo não pensasse essa relação espacial e<br />

assim escapasse à inerência no próprio momento em que eu<br />

ma represento? Eu saberia que estou preso no mundo e nele<br />

situado se ali estivesse ver<strong>da</strong>deiramente preso e situado? Eu<br />

me limitaria agora a estar onde estou como uma coisa, e, se<br />

sei onde estou e me vejo no meio <strong>da</strong>s coisas, é porque sou<br />

uma consciência, um ser singular que não reside em parte<br />

alguma e pode tornar-se presente a to<strong>da</strong>s as partes em intenção.<br />

Tudo o que existe existe como coisa ou como consciência,<br />

e não há meio-termo. A coisa está em um lugar, mas a<br />

percepção não está em parte alguma porque, se estivesse situa<strong>da</strong>,<br />

ela não poderia fazer as outras coisas existirem para ela<br />

mesma, já que repousaria em si à maneira <strong>da</strong>s coisas. A percepção<br />

é portanto o pensamento de perceber. Sua encarnação<br />

não oferece nenhum caráter positivo do qual se precise<br />

<strong>da</strong>r conta, e sua eccei<strong>da</strong>de é apenas a ignorância em que ela<br />

está de si mesma. A análise reflexiva torna-se uma doutrina<br />

puramente regressiva, segundo a qual to<strong>da</strong> percepção é uma<br />

intelecção confusa, to<strong>da</strong> determinação é uma negação. Assim<br />

ela suprime todos os problemas, salvo um: o de seu próprio<br />

começo. A finitude de uma percepção que me apresenta,<br />

como dizia Spinoza, "conseqüências sem premissas", a<br />

inerência <strong>da</strong> consciência a ura ponto de vista, tudo se reconduz<br />

à minha ignorância de mim mesmo, ao meu poder inteiramente<br />

negativo de não refletir. Mas essa ignorância, por<br />

sua vez, como ela é possível? Responder que ela nunca é seria

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