12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 591<br />

verso. Portanto, é ver<strong>da</strong>de que não existem obstáculos em si,<br />

mas o eu que os qualifica como tais não é um sujeito acósmico,<br />

ele se precede a si mesmo junto às coisas para <strong>da</strong>r-lhes<br />

figura de coisas. Existe um sentido autóctone do mundo, que<br />

se constitui no comércio de nossa existência encarna<strong>da</strong> com<br />

ele, e que forma o solo de to<strong>da</strong> Sinngebung decisória.<br />

Isso não é ver<strong>da</strong>deiro apenas de uma função impessoal<br />

e em suma abstrata como a "percepção exterior". Há algo<br />

de análogo em to<strong>da</strong>s as valorizações. Observou-se com profundi<strong>da</strong>de<br />

que a dor e a fadiga nunca podem ser considera<strong>da</strong>s<br />

como causas que "agem" sobre minha liber<strong>da</strong>de, e que,<br />

se sinto dor ou fadiga em um momento <strong>da</strong>do, elas não vêm<br />

do exterior, elas sempre têm um sentido, elas exprimem minha<br />

atitude em relação ao mundo. A dor me faz ceder e dizer<br />

aquilo que eu deveria calar, a fadiga me faz interromper minha<br />

viagem, nós todos conhecemos este momento em que decidimos<br />

não mais suportar a dor ou a fadiga e em que, instantaneamente,<br />

elas se tornam com efeito insuportáveis. A<br />

fadiga não detém meu companheiro porque ele gosta de seu<br />

corpo suado, do calor do caminho e do sol e, enfim, porque<br />

ele gosta de sentir-se no meio <strong>da</strong>s coisas, de concentrar-lhes<br />

a irradiação, de fazer-se olhar para esta luz, tato para esta<br />

superfície. Minha fadiga me detém porque não gosto dela,<br />

porque escolhi de outra maneira o meu modo de ser no mundo,<br />

e porque, por exemplo, não procuro estar na natureza,<br />

mas antes fazer-me reconhecer pelos outros. Sou livre em relação<br />

à fadiga na exata medi<strong>da</strong> em que o sou em relação ao<br />

meu ser no mundo, livre para prosseguir meu caminho sob<br />

a condição de transformá-lo 6 . Mas justamente aqui precisamos<br />

reconhecer outra vez uma espécie de sedimentação de<br />

nossa vi<strong>da</strong>: uma atitude em relação ao mundo, quando ela<br />

foi freqüentemente confirma<strong>da</strong>, é para nós privilegia<strong>da</strong>. Se<br />

diante dela a liber<strong>da</strong>de não experimenta nenhum motivo, meu<br />

ser no mundo habitual é a ca<strong>da</strong> momento tão frágil, os com-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!