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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 485<br />

deu para sempre a tratá-los como consortes, e porque to<strong>da</strong> a<br />

sua ciência está construí<strong>da</strong> sobre este <strong>da</strong>do de opinião. A subjetivi<strong>da</strong>de<br />

transcendental é uma subjetivi<strong>da</strong>de revela<strong>da</strong>, saber<br />

para si mesma e para outrem, e a este título ela é uma<br />

intersubjetivi<strong>da</strong>de. A partir do momento em que a existência<br />

se concentra e se engaja em uma conduta, ela cai sob a percepção.<br />

Como qualquer outra percepção, esta afirma mais<br />

coisas do que realmente apreende: quando digo que vejo o<br />

cinzeiro que está ali, suponho acabado um desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> experiência que iria ao infinito, envolvo todo um porvir<br />

perceptivo. Da mesma maneira, quando digo que conheço<br />

alguém ou que o amo, para além de suas quali<strong>da</strong>des eu viso<br />

um fundo inesgotável que um dia pode fazer estilhaçar a imagem<br />

que me faço desta pessoa. É a este preço que existem<br />

para nós as coisas e os "outros", não por uma ilusão, mas<br />

por um ato violento que é a própria percepção.<br />

Portanto precisamos redescobrir, depois do mundo natural,<br />

o mundo social, não como objeto ou soma de objetos,<br />

mas como campo permanente ou dimensão de existência: posso<br />

desviar-me dele, mas não deixar de estar situado em relação<br />

a ele. Nossa relação ao social é, assim como nossa relação<br />

ao mundo, mais profun<strong>da</strong> que qualquer percepção explícita<br />

ou qualquer juízo. E tão falso nos situarmos na socie<strong>da</strong>de<br />

como um objeto no meio de outros objetos quanto colocar<br />

a socie<strong>da</strong>de em nós como objeto de pensamento, e dos dois<br />

lados o erro consiste em tratar o social como um objeto. Precisamos<br />

retornar ao social com o qual estamos em contato só<br />

pelo fato de que existimos, e que trazemos ligado a nós antes<br />

de qualquer objetivação. A consciência objetiva e científica<br />

do passado e <strong>da</strong>s civilizações seria impossível se eu não tivesse<br />

com estes, por intermédio de minha socie<strong>da</strong>de, de meu<br />

mundo cultural e de seus horizontes, uma comunicação pelo<br />

menos virtual, se o lugar <strong>da</strong> república ateniense ou do império<br />

romano não estivesse marcado em algum lugar nos con-

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