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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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120 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

ou a simples persistência <strong>da</strong>s estimulações interoceptivas. Nessa<br />

hipótese, a anosognose é a ausência de um fragmento <strong>da</strong><br />

representação do corpo que deveria ser <strong>da</strong><strong>da</strong>, já que o membro<br />

correspondente está ali; o membro fantasma é a presença<br />

de uma parte <strong>da</strong> representação do corpo que não deveria<br />

ser <strong>da</strong><strong>da</strong>, já que o membro correspondente não está ali. Se<br />

agora <strong>da</strong>mos uma explicação psicológica dos fenômenos, o<br />

membro fantasma torna-se uma recor<strong>da</strong>ção, um juízo positivo<br />

ou uma percepção, a anosognose um esquecimento, um<br />

juízo negativo ou uma não-percepção. No primeiro caso, o<br />

membro fantasma é a presença efetiva de uma representação;<br />

a anosognose, a ausência efetiva de uma representação.<br />

No segundo caso, o membro fantasma é a representação de<br />

uma presença efetiva, a anosognose é a representação de uma<br />

ausência efetiva. Nos dois casos nós não saímos <strong>da</strong>s categorias<br />

do mundo objetivo, em que não há meio-termo entre a<br />

presença e a ausência. Na reali<strong>da</strong>de, o anosognósico não ignora<br />

simplesmente o membro paralisado: ele só pode desviarse<br />

<strong>da</strong> deficiência porque sabe onde correria o risco de encontrá-la,<br />

assim como o paciente na psicanálise sabe o que não<br />

quer ver face a face, ou não poderia evitá-lo tão bem. Só compreendemos<br />

a ausência ou a morte de um amigo no momento<br />

em que esperamos dele uma resposta e sentimos que ela<br />

não existirá mais; por isso, primeiramente evitamos interrogar<br />

para não ter de perceber esse silêncio; nós nos desviamos<br />

<strong>da</strong>s regiões de nossa vi<strong>da</strong> em que poderíamos encontrar esse<br />

na<strong>da</strong>, mas isso significa que nós as adivinhamos. Da mesma<br />

forma, o anosognósico põe fora de jogo seu braço paralisado<br />

para não ter de experimentar sua per<strong>da</strong>, mas isso significa<br />

que ele tem dela um saber pré-consciente. É ver<strong>da</strong>de que,<br />

no caso do membro fantasma, o paciente parece ignorar a<br />

mutilação e contar com seu fantasma como cóm um membro<br />

real, já que ele tenta caminhar com sua perna fantasma e não<br />

se deixa desencorajar nem mesmo por uma que<strong>da</strong>. Mas, por

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