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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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8 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

do Uno sem dividi-lo. A análise reflexiva ignora o problema<br />

do outro assim como o problema do mundo, porque ela faz<br />

surgir em mim, com o primeiro lampejo de consciência, o<br />

poder de dirigir-me a uma ver<strong>da</strong>de de direito universal, e porque<br />

sendo o outro também sem eccei<strong>da</strong>de, sem lugar e sem<br />

corpo, o Alter e o Ego são um só no mundo ver<strong>da</strong>deiro, elo<br />

dos espíritos. Não existe dificul<strong>da</strong>de para se compreender como<br />

Eu posso pensar o Outro porque o Eu e, por conseguinte,<br />

o Outro não estão presos no tecido dos fenômenos e mais<br />

valem do que existem. Não há na<strong>da</strong> de escondido atrás destes<br />

rostos ou destes gestos, nenhuma paisagem para mim inacessível,<br />

apenas um pouco de sombra que só existe pela luz.<br />

Para Husserl, ao contrário, sabemos que existe um problema<br />

do outro e o alter ego é um paradoxo. Se o outro é ver<strong>da</strong>deiramente<br />

para si para além de seu ser para mim, e se nós<br />

somos um para o outro e não um e outro para Deus, é preciso<br />

que apareçamos um ao outro, é preciso que ele tenha e<br />

que eu tenha um exterior, e que exista, além <strong>da</strong> perspectiva<br />

do Para Si — minha visão sobre mim e a visão do outro sobre<br />

ele mesmo —, uma perspectiva do Para Outro — minha<br />

visão sobre o Outro e a visão do Outro sobre mim. Certamente,<br />

estas duas perspectivas, em ca<strong>da</strong> um de nós, não podem<br />

estar simplesmente justapostas, pois então não seria a mim<br />

que o outro veria e não seria a ele que eu veria. É preciso que eu<br />

seja meu exterior, e que o corpo do outro seja ele mesmo.<br />

Esse paradoxo e essa dialética do Ego e do Alter só são possíveis<br />

se o Ego e o Alter Ego são definidos por sua situação e<br />

não liberados de to<strong>da</strong> inerência, quer dizer, se a filosofia não<br />

se completa com o retorno ao eu, e se descubro pela reflexão<br />

não apenas minha presença a mim mesmo mas também a possibili<strong>da</strong>de<br />

de um "espectador estrangeiro", quer dizer, se também,<br />

no próprio momento em que experimento minha existência,<br />

e até nesse cume extremo <strong>da</strong> reflexão, eu careço ain<strong>da</strong><br />

desta densi<strong>da</strong>de absoluta que me faria sair do tempo, e

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