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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 447<br />

A pretensa plenitude do objeto e do instante só surge diante<br />

<strong>da</strong> imperfeição do ser intencional. Um presente sem porvir<br />

ou um eterno presente é exatamente a definição <strong>da</strong> morte,<br />

o presente vivo está dilacerado entre um passado que ele retoma<br />

e um porvir que projeta. Portanto, é essencial à coisa<br />

e ao mundo apresentarem-se como "abertos", reenviar-nos<br />

para além de suas manifestações determina<strong>da</strong>s, prometer-nos<br />

sempre "outra coisa para ver". E isso que por vezes se exprime<br />

dizendo que a coisa e o mundo são misteriosos. Eles<br />

o são, com efeito, a partir do momento em que não nos limitamos<br />

ao seu aspecto objetivo e os recolocamos no ambiente<br />

<strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de. Eles são até mesmo um mistério absoluto,<br />

que não comporta nenhum esclarecimento, não por uma falha<br />

provisória de nosso conhecimento, pois então ele voltaria<br />

a cair na categoria de simples problema, mas porque ele não<br />

é <strong>da</strong> ordem do pensamento objetivo, em que existem soluções.<br />

Para além de nossos horizontes não há na<strong>da</strong> a se ver<br />

senão outras paisagens ain<strong>da</strong> e outros horizontes, na<strong>da</strong> a se<br />

ver no interior <strong>da</strong> coisa senão outras coisas menores. O ideal<br />

do conhecimento objetivo é ao mesmo tempo fun<strong>da</strong>do e arruinado<br />

pela temporali<strong>da</strong>de. O mundo no sentido pleno <strong>da</strong><br />

palavra não é um objeto, ele tem um invólucro de determinações<br />

objetivas, mas também fissuras, lacunas por onde as<br />

subjetivi<strong>da</strong>des nele se alojam, ou, antes, que são as próprias<br />

subjetivi<strong>da</strong>des. Compreende-se agora por que as coisas, que<br />

devem ao mundo o seu sentido, não são significações ofereci<strong>da</strong>s<br />

à inteligência, mas estruturas opacas, e por que seu sentido<br />

último permanece embaralhado. A coisa e o mundo só<br />

existem vividos por mim ou por sujeitos tais como eu, já que<br />

eles são o encadeamento de nossas perspectivas, mas transcendem<br />

to<strong>da</strong>s as perspectivas porque esse encadeamento é<br />

temporal e inacabado. Parece-me que o mundo se vive a si<br />

mesmo fora de rnim, assim como as paisagens ausentes continuam<br />

a se viver para além de meu campo visual, e assim

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