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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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596 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

viver. Pode ser que neste momento ele incrimine os operários<br />

<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, e então a consciência de classe não nascerá.<br />

Se ela nasce, não é porque o diarista tenha decidido tornarse<br />

revolucionário e em conformi<strong>da</strong>de com isso valorize sua<br />

condição efetiva, é porque ele percebeu concretamente o sincronismo<br />

entre sua vi<strong>da</strong> e a vi<strong>da</strong> dos operários e a comuni<strong>da</strong>de<br />

de seus destinos. O pequeno arren<strong>da</strong>tário que não se confunde<br />

com os diaristas e menos ain<strong>da</strong> com os operários <strong>da</strong>s<br />

ci<strong>da</strong>des, separado deles por um mundo de costumes e de juízos<br />

de valor, sente-se to<strong>da</strong>via do mesmo lado que os diaristas<br />

quando lhes paga um salário insuficiente, sente-se até mesmo<br />

solidário com os operários <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de quando fica sabendo<br />

que o proprietário <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> preside o conselho de administração<br />

de várias empresas industriais. O espaço social começa<br />

a se polarizar, vê-se surgir uma região dos explorados.<br />

A ca<strong>da</strong> impulso vindo de um ponto qualquer do horizonte<br />

social, o reagrupamento se precisa para além <strong>da</strong>s ideologias<br />

e <strong>da</strong>s diferentes profissões. A classe se realiza, e dizemos que<br />

uma situação é revolucionária quando a conexão que existe<br />

objetivamente entre as partes do proletariado (quer dizer, em<br />

última análise, a conexão que um observador absoluto teria<br />

reconhecido entre elas) é enfim vivi<strong>da</strong> na percepção de um<br />

obstáculo comum à existência de todos. Não é de forma alguma<br />

necessário que em algum momento surja uma representação<br />

<strong>da</strong> revolução. Por exemplo, é duvidoso que, em 1917,<br />

os camponeses russos se tenham proposto expressamente a<br />

revolução e a transformação <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de. A revolução nasce<br />

no dia-a-dia do encadeamento dos fins próximos a fins menos<br />

próximos. Não é necessário que ca<strong>da</strong> proletário se pense<br />

como proletário no sentido que um teórico marxista dá à palavra.<br />

Basta que o diarista ou o meeiro se sintam em marcha<br />

em direção a uma certa encruzilha<strong>da</strong> para onde o caminho<br />

dos operários <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de também conduz. Uns e outros desembocam<br />

na revolução que talvez os teria assustado se ela

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