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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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138 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

que ele é o último objeto do mundo exterior, após o qual começaria<br />

uma dor do sentido íntimo, uma consciência de dor<br />

por si mesma sem lugar que só se ligaria ao pé por uma determinação<br />

causai e no sistema <strong>da</strong> experiência. Quero dizer<br />

que a dor indica seu lugar, que ela é constitutiva de um "espaço<br />

doloroso". "Tenho dor no pé" não significa: "Penso<br />

que meu pé é a causa dessa dor", mas: "a dor vem de meu<br />

pé" ou ain<strong>da</strong> "meu pé tem dor". E isso que mostra muito<br />

bem o "primitivo caráter volumoso <strong>da</strong> dor" do qual falavam<br />

os psicólogos. Reconhecia-se então que meu corpo não se oferece<br />

à maneira dos objetos do sentido externo, e que talvez<br />

estes só se perfilem sobre esse fundo afetivo que originariamente<br />

lança a consciência para fora de si mesma.<br />

Enfim, quando os psicólogos quiseram reservar ao corpo<br />

próprio "sensações cinestésicas" que nos <strong>da</strong>riam globalmente<br />

seus movimentos, ao passo que eles atribuíam os movimentos<br />

dos objetos exteriores a uma percepção mediata e<br />

à comparação <strong>da</strong>s posições sucessivas, podia-se opor-lhes que<br />

o movimento, sendo uma relação, não poderia ser sentido e<br />

que exige um percurso mental, mas essa objeção só condenava<br />

a linguagem deles. O que eles exprimiam, muito mal a<br />

bem <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, pela "sensação cinestésica" era a originali<strong>da</strong>de<br />

dos movimentos que executo com meu corpo: eles antecipam<br />

diretamente a situação final, minha intenção só esboça<br />

um percurso especial para ir ao encontro <strong>da</strong> meta primeiramente<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> em seu lugar, há como que um germe de<br />

movimento que só secun<strong>da</strong>riamente se desenvolve como percurso<br />

objetivo. Movo os objetos exteriores com o auxílio de<br />

meu próprio corpo que os pega em um lugar para conduzilos<br />

a um outro. Mas ele, eu o movo diretamente, não o encontro<br />

em um ponto do espaço objetivo para levá-lo a um<br />

outro, não preciso procurá-lo, eleja está comigo — não preciso<br />

conduzi-lo em direção ao termo do movimento, ele o alcança<br />

desde o começo e é ele que se lança a este termo. As

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