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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O CORPO 153<br />

mo suporte desses atos que conheço bem, meu corpo como<br />

potência de ação determina<strong>da</strong> <strong>da</strong> qual conheço antecipa<strong>da</strong>mente<br />

o campo ou o alcance, há meu meio circun<strong>da</strong>nte como<br />

conjunto dos pontos de aplicação possíveis dessa potência<br />

— e há, por outro lado, meu braço como máquina de músculos<br />

e de ossos, como aparelho para flexões e extensões, como<br />

objeto articulado, o mundo como puro espetáculo ao qual<br />

eu não me junto, mas que contemplo e que aponto. No que<br />

concerne ao espaço corporal, vê-se que há um saber do lugar<br />

que se reduz a um tipo de coexistência com ele e que não é<br />

um na<strong>da</strong>, embora uma descrição ou mesmo a designação mu<strong>da</strong><br />

de um gesto não possa traduzi-lo. O doente picado por<br />

um mosquito não precisa procurar o ponto picado e o encontra<br />

à primeira tentativa porque não se trata para ele de situálo<br />

em relação a eixos de coordena<strong>da</strong>s no espaço objetivo, mas<br />

de atingir com sua mão fenomenal um certo lugar doloroso<br />

de seu corpo fenomenal, e porque entre a mão enquanto potência<br />

de cocar e o ponto picado enquanto ponto a ser cocado<br />

está <strong>da</strong><strong>da</strong> uma relação vivi<strong>da</strong> no sistema natural do corpo<br />

próprio. A operação to<strong>da</strong> tem lugar na ordem do fenomenal,<br />

não passa pelo mundo objetivo, e apenas o espectador, que<br />

atribui ao sujeito do movimento a sua representação objetiva<br />

do corpo vivo, pode acreditar que a pica<strong>da</strong> é percebi<strong>da</strong>, que<br />

a mão se move no espaço objetivo, e em conseqüência pode<br />

espantar-se de que o mesmo sujeito fracasse nas experiências<br />

de designação. Da mesma maneira, o sujeito posto diante de<br />

sua tesoura, sua agulha e suas tarefas familiares não precisa<br />

procurar suas mãos ou seus dedos porque eles não são objetos<br />

a se encontrar no espaço objetivo, ossos, músculos, nervos,<br />

mas potências já mobiliza<strong>da</strong>s pela percepção <strong>da</strong> tesoura<br />

ou <strong>da</strong> agulha, o termo central dos "fios intencionais" que<br />

o ligam aos objetos <strong>da</strong>dos. Não é nunca nosso corpo objetivo<br />

que movemos, mas nosso corpo fenomenal, e isso sem mistério,<br />

porque já era nosso corpo, enquanto potência de tais e

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