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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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552 FENOMENOLOGIÁ DA PERCEPÇÃO<br />

a água que passará amanhã está neste momento em sua nascente,<br />

a água que acaba de passar está agora um pouco mais<br />

embaixo, no vale. Aquilo que para mim é passado ou futuro<br />

está presente no mundo. Freqüentemente se diz que, nas próprias<br />

coisas, o porvir ain<strong>da</strong> não é, o passado não é mais, e<br />

o presente, rigorosamente, é apenas um limite, de forma que<br />

o tempo desmorona. E por isso que Leibniz podia definir o<br />

mundo objetivo mens momentânea, é por isso também que, para<br />

constituir o tempo, santo Agostinho exigia, além <strong>da</strong> presença<br />

do presente, uma presença do passado e uma presença<br />

do porvir. Mas compreen<strong>da</strong>mos o que eles querem dizer. Se<br />

o mundo objetivo é incapaz de trazer o tempo, não é porque<br />

de alguma maneira ele seja muito estreito, não é que precisemos<br />

acrescentar a ele um lado de passado e um lado de porvir.<br />

O passado e o porvir existem em demasia no mundo, eles<br />

existem no presente, e aquilo que falta ao próprio ser para<br />

ser temporal é o não-ser do alhures, do outrora e do amanhã.<br />

O mundo objetivo é excessivamente pleno para que nele<br />

haja tempo. O passado e o porvir, por si mesmos, retiramse<br />

do ser e passam para o lado <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de para procurar<br />

nela não algum suporte real, mas, ao contrário, uma possibili<strong>da</strong>de<br />

de não-ser que se harmonize com sua natureza. Se<br />

separamos o mundo objetivo <strong>da</strong>s perspectivas finitas que dão<br />

acesso a ele e o pomos em si, em to<strong>da</strong>s as suas partes só podemos<br />

encontrar "agoras". Mais ain<strong>da</strong>, esses agoras, não estando<br />

presentes a ninguém, não têm nenhum caráter temporal<br />

e não poderiam suceder-se. A definição do tempo que está<br />

implícita nas comparações do senso comum, e que se poderia<br />

formular como "uma sucessão de agoras" 1 , não erra<br />

apenas por tratar o passado e o porvir como presentes: ela<br />

é inconsistente, já que destrói a própria noção do "agora"<br />

e a noção <strong>da</strong> sucessão.<br />

Na<strong>da</strong> ganharíamos, portanto, em transferir o tempo <strong>da</strong>s<br />

coisas para nós, se renovássemos "na consciência" o erro de

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