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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 393<br />

mento de objetivação, ela não se cristalizaria em mitos. Procuramos<br />

subtrair a consciência mítica às racionalizações prematuras<br />

que, como em Comte por exemplo, tornam o mito<br />

incompreensível porque procuram nele uma explicação do<br />

mundo e uma antecipação <strong>da</strong> ciência, quando ele é uma projeção<br />

<strong>da</strong> existência e uma expressão <strong>da</strong> condição humana. Mas<br />

compreender o mito não é acreditar no mito, e se todos os<br />

mitos são ver<strong>da</strong>deiros é enquanto podem ser recolocados em<br />

uma fenomenologia do espírito que indique sua função na toma<strong>da</strong><br />

de consciência e, finalmente, funde seu sentido próprio<br />

em seu sentido para o filósofo. Da mesma maneira, é ao sonhador<br />

que fui esta noite que peço a narrativa do sonho, mas<br />

enfim o próprio sonhador não conta na<strong>da</strong> e aquele que conta<br />

está desperto. Sem o despertar, os sonhos só seriam modulações<br />

instantâneas e nem mesmo existiriam para nós. Durante<br />

o próprio sonho, não abandonamos o mundo: o espaço do<br />

sonho separa-se do espaço claro, mas utiliza to<strong>da</strong>s as suas articulações,<br />

o mundo nos obceca até no sono e é sobre o mundo<br />

que sonhamos. Da mesma maneira, é em torno do mundo<br />

que a loucura gravita. Para não dizer na<strong>da</strong> <strong>da</strong>s divagaçÕes<br />

mórbi<strong>da</strong>s ou dos delírios que tentam fabricar-se um domínio<br />

privado com os fragmentos do macrocosmo, os estados<br />

melancólicos mais avançados, em que o doente se instala<br />

na morte e ali coloca, por assim dizer, a sua casa, para fazêlo<br />

utilizam ain<strong>da</strong> as estruturas do ser no mundo e tomam-lhe<br />

de empréstimo aquilo que é preciso de ser para negá-lo. Este<br />

elo entre a subjetivi<strong>da</strong>de e a objetivi<strong>da</strong>de, que já existe na<br />

consciência mítica ou infantil, e que sempre subsiste no sono<br />

ou na loucura, nós o encontramos, com mais razão, na experiência<br />

normal. Nunca vivo inteiramente nos espaços antropológicos,<br />

estou sempre ligado, por minha raízes, a um espaço<br />

natural e inumano. Enquanto atravesso a praça <strong>da</strong> Concórdia<br />

e me acredito inteiramente tomado por Paris, posso<br />

deter meus olhos em uma pedra do muro do jardim <strong>da</strong>s Tui-

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