12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O CORPO 199<br />

ço, o raio de ação <strong>da</strong> bengala. Se quero habituar-me a uma<br />

bengala, eu tento, toco alguns objetos e, depois de algum tempo,<br />

eu a "manejo", vejo quais objetos estão "ao alcance"<br />

ou fora do alcance de minha bengala. Não se trata aqui de<br />

uma estimativa rápi<strong>da</strong> e de uma comparação entre o comprimento<br />

objetivo <strong>da</strong> bengala e a distância objetiva do alvo<br />

a alcançar. Os lugares do espaço não se definem como posições<br />

objetivas era relação à posição objetiva de nosso corpo,<br />

mas eles inscrevem em torno de nós o alcance variável de nossos<br />

objetivos ou de nossos gestos. Habituar-se a um chapéu,<br />

a um automóvel ou a uma bengala é instalar-se neles ou, inversamente,<br />

fazê-los participar do caráter volumoso de nosso<br />

corpo próprio. O hábito exprime o poder que temos de<br />

dilatar nosso ser no mundo ou de mu<strong>da</strong>r de existência anexando<br />

a nós novos instrumentos 109 . Pode-se saber <strong>da</strong>tilografar<br />

sem saber indicar onde estão, no teclado, as letras que<br />

compõem as palavras. Portanto, saber <strong>da</strong>tilografar não é conhecer<br />

a localização de ca<strong>da</strong> letra no teclado, nem mesmo ter<br />

adquirido, para ca<strong>da</strong> uma, um reflexo condicionado que ela<br />

desencadearia quando se apresenta ao nosso olhar. Se o hábito<br />

não é nem um conhecimento nem um automatismo, o<br />

que é então? Trata-se de um saber que está nas mãos, que<br />

só se entrega ao esforço corporal e que não se pode traduzir<br />

por uma designação objetiva. O sujeito sabe onde estão as<br />

letras no teclado, assim como sabemos onde está um de nossos<br />

membros, por um saber de familiari<strong>da</strong>de que não nos oferece<br />

uma posição no espaço objetivo. O deslocamento dos seus<br />

dedos não é <strong>da</strong>do ao <strong>da</strong>tilografo como um trajeto espacial que<br />

se possa descrever, mas apenas como uma certa modulação<br />

<strong>da</strong> motrici<strong>da</strong>de, distinta de qualquer outra por sua fisionomia.<br />

Freqüentemente se coloca a questão como se a percepção<br />

de uma letra escrita no papel despertasse a representação<br />

<strong>da</strong> mesma letra que, por sua vez, despertaria a representação<br />

do movimento necessário para alcançá-la no teclado. Mas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!