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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 489<br />

vive a si mesma. To<strong>da</strong>via, esta mesma natureza pensante que<br />

me abarrota de ser me abre o mundo através de uma perspectiva,<br />

com ela eu recebo o sentimento de minha contingência,<br />

a angústia de ser ultrapassado, de forma que, se não penso<br />

minha morte, vivo em uma atmosfera de morte em geral, há<br />

como que uma essência <strong>da</strong> morte que está sempre no horizonte<br />

de meus pensamentos. Enfim, como para mim o instante<br />

de minha morte é um porvir inacessível, estou certo de<br />

nunca viver a presença de outrem a si mesmo. E to<strong>da</strong>via ca<strong>da</strong><br />

um dos outros existe para mim a título de estilo ou de meio<br />

de coexistência irrecusável, e minha vi<strong>da</strong> tem uma atmosfera<br />

social assim como tem um sabor mortal.<br />

Com o mundo natural e o mundo social, nós descobrimos<br />

o ver<strong>da</strong>deiro transcendental, que não é o conjunto <strong>da</strong>s<br />

operações constitutivas pelas quais um mundo transparente,<br />

sem sombras e sem opaci<strong>da</strong>de se exporia diante de um espectador<br />

imparcial, mas a vi<strong>da</strong> ambígua em que se faz a Ursprung<br />

<strong>da</strong>s transcendências, que, por uma contradição fun<strong>da</strong>mental,<br />

me põe em comunicação com elas e, sobre este fundo,<br />

torna possível o conhecimento 8 . Dir-se-á talvez que uma<br />

contradição não pode ser posta no centro <strong>da</strong> filosofia e que<br />

to<strong>da</strong>s as nossas descrições, não sendo finalmente pensáveis,<br />

não querem dizer absolutamente na<strong>da</strong>. A objeção seria váli<strong>da</strong>s<br />

e nós nos limitássemos a reencontrar, sob o nome de fenômeno<br />

ou de campo fenomenal, uma cama<strong>da</strong> de experiências<br />

pré-lógicas ou mágicas. Pois então seria preciso escolher<br />

entre crer nas descrições e renunciar a pensar, ou saber aquilo<br />

que se diz e renunciar às descrições. E preciso que essas descrições<br />

sejam para nós a ocasião de definir uma compreensão<br />

e uma reflexão mais radicais do que o pensamento objetivo.<br />

A fenomenologia entendi<strong>da</strong> como descrição direta, deve<br />

acrescentar-se uma fenomenologia <strong>da</strong> fenomenologia. Devemos<br />

voltar ao cogito para procurar ali um Logos mais fun<strong>da</strong>mental<br />

do que o do pensamento objetivo, que lhe dê seu

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