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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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306 FENOMENOLOG1A DA PERCEPÇÃO<br />

quando rompo essa estruturação total de minha visão, quando<br />

deixo de aderir ao meu próprio olhar e, em lugar de viver<br />

a visão, interrogo-me sobre ela, quero testar minhas possibili<strong>da</strong>des,<br />

desfaço o elo entre minha visão e o mundo, entre mim<br />

mesmo e minha visão, para surpreendê-la e descrevê-la. Nessa<br />

atitude, ao mesmo tempo em que o mundo se pulveriza em<br />

quali<strong>da</strong>des sensíveis, a uni<strong>da</strong>de natural do sujeito perceptivo<br />

é rompi<strong>da</strong> e chego a ignorar-me enquanto sujeito de um campo<br />

visual. Ora, assim como, no interior de ca<strong>da</strong> sentido, é<br />

preciso reencontrar a uni<strong>da</strong>de natural, faremos aparecer uma<br />

"cama<strong>da</strong> originária" do sentir que é anterior à divisão dos<br />

sentidos 35 . Conforme eu fixe um objeto ou deixe meus olhos<br />

divergirem, ou enfim me abandone por inteiro ao acontecimento,<br />

a mesma cor me aparece como cor superficial (Oberflàchenjarbe)<br />

— ela está em um lugar definido do espaço,<br />

estende-se sobre o objeto — ou então ela se torna cor atmosférica<br />

{Raumfarbe) e difusa em torno do objeto; ou então eu<br />

a sinto em meu olho como uma vibração de meu olhar; ou<br />

enfim ela comunica a todo o meu corpo uma mesma maneira<br />

de ser, ela me preenche e não merece mais o nome de cor.<br />

Da mesma maneira, há um som objetivo que ressoa fora de<br />

mim no instrumento, um som atmosférico que está entre o objeto<br />

e meu corpo, um som que vibra em mim "como se eu<br />

me tivesse tornado a flauta ou o pêndulo"; e enfim um último<br />

estágio em que o elemento sonoro desaparece e torna-se<br />

a experiência, aliás muito precisa, de uma modificação de todo<br />

o meu corpo 36 . A experiência sensorial só dispõe de uma<br />

margem estreita: ou o som e a cor, por seu arranjo próprio,<br />

desenham um objeto, o cinzeiro, o violão, e esse objeto fala<br />

de uma só vez a todos os sentidos; ou então, na outra extremi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> experiência, o som e a cor são recebidos em meu<br />

corpo, e torna-se difícil limitar minha experiência a um único<br />

registro sensorial: espontaneamente, ela transbor<strong>da</strong> para<br />

todos os outros. A experiência sensorial, no terceiro estágio

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