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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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108 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

cor<strong>da</strong>ções com os objetos aos quais elas se reportam, levando<br />

em conta outros motivos de erro, somos surpreendidos pelas<br />

mu<strong>da</strong>nças que eles devem à sua própria duração. Mas acreditamos<br />

que há uma ver<strong>da</strong>de do passado, apoiamos nossa memória<br />

em uma imensa Memória do mundo, na qual figura<br />

a casa tal como ela ver<strong>da</strong>deiramente era naquele dia e que<br />

fun<strong>da</strong> seu ser do momento. Considerado em si mesmo — e<br />

enquanto objeto ele exige que o consideremos assim —, o objeto<br />

na<strong>da</strong> tem de envolto, ele está exposto por inteiro, suas<br />

partes coexistem enquanto nosso olhar as percorre alterna<strong>da</strong>mente,<br />

seu presente não apaga seu passado, seu futuro não<br />

apagará seu presente. Portanto, a posição do objeto nos faz<br />

ultrapassar os limites de nossa experiência efetiva, que se aniquila<br />

em um ser estranho, de forma que para terminar crê<br />

extrair dele tudo aquilo que ela nos ensina. É este êxtase <strong>da</strong><br />

experiência que faz com que to<strong>da</strong> percepção seja percepção<br />

de algo.<br />

Obcecado pelo ser, e esquecendo o perspectivismo de minha<br />

experiência, eu o trato doravante como objeto, eu o deduzo<br />

de uma relação entre objetos. Considero meu corpo, que<br />

é meu ponto de vista sobre o mundo, como um dos objetos<br />

desse mundo. A consciência que eu tinha de meu olhar como<br />

meio de conhecer, recalco-a e trato meus olhos como fragmentos<br />

de matéria. Desde então, eles tomam lugar no mesmo<br />

espaço objetivo em que procuro situar o objeto exterior,<br />

e acredito engendrar a perspectiva percebi<strong>da</strong> pela projeção<br />

dos objetos em minha retina. Da mesma forma, trato minha<br />

própria história perceptiva como um resultado de minhas relações<br />

com o mundo objetivo; meu presente, que é meu ponto<br />

de vista sobre o tempo, torna-se um momento do tempo<br />

entre todos os outros, minha duração um reflexo ou um aspecto<br />

abstrato do tempo universal, assim como meu corpo<br />

um modo do espaço objetivo. Do mesmo modo, enfim, se os<br />

objetos que rodeiam a casa ou a habitam permanecessem aqui-

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