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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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o CORPO 255<br />

ca<strong>da</strong> língua, um sistema de expressão muito reduzido, mas<br />

tal, por exemplo, que não seria arbitrário chamar de luz a<br />

luz se chamamos de noite a noite. A predominância <strong>da</strong>s vogais<br />

em uma língua, <strong>da</strong>s consoantes em outra, os sistemas<br />

de construção e de sintaxe não representariam tantas convenções<br />

arbitrárias para exprimir o mesmo pensamento, mas várias<br />

maneiras, para o corpo humano, de celebrar o mundo<br />

e finalmente de vivê-lo. Daí proviria o fato de que o sentido<br />

pleno de uma língua nunca é traduzível em uma outra. Podemos<br />

falar várias línguas, mas uma delas permanece sempre<br />

aquela na qual vivemos. Para assimilar completamente uma<br />

língua, seria preciso assumir o mundo que ela exprime, e nunca<br />

pertencemos a dois mundos ao mesmo tempo 15 . Se existe<br />

um pensamento universal, nós o obtemos retomando o esforço<br />

de expressão e de comunicação tal como ele foi tentado<br />

por uma língua, assumindo todos os equívocos, todos os deslizamentos<br />

de sentido dos quais é feita uma tradição lingüística,<br />

e que mensuram exatamente sua potência de expressão.<br />

Um algoritmo convencional — que aliás só tem sentido reportado<br />

à linguagem — exprimirá sempre a Natureza sem<br />

o homem. Portanto, rigorosamente, não existem signos convencionais,<br />

simples notação de um pensamento puro e claro<br />

para si mesmo, só existem falas nas quais se contrai a história<br />

de to<strong>da</strong> uma língua, e que realizam a comunicação sem<br />

nenhuma garantia, no meio de incríveis acasos lingüísticos.<br />

Se nos parece sempre que a linguagem é mais transparente<br />

do que a música, é porque na maior parte do tempo permanecemos<br />

na linguagem constituí<strong>da</strong>, <strong>da</strong>mo-nos significações<br />

disponíveis e, em nossas definições, limitamo-nos, como o dicionário,<br />

a indicar equivalências entre elas. O sentido de uma<br />

frase parece-nos do começo ao fim inteligível, separável dessa<br />

própria frase e definido em um mundo inteligível, porque<br />

supomos <strong>da</strong><strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as participações que ela deve à história<br />

<strong>da</strong> língua e que contribuem para determinar seu sentido. Na

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