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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O REI ORNO AOS FENÔMENOS 95<br />

resultado de acontecimentos psicofisiológicos, a racionali<strong>da</strong>de<br />

não é mais um feliz acaso que faria concor<strong>da</strong>rem sensações<br />

dispersas, e a Gestalté reconheci<strong>da</strong> como originária. Mas,<br />

se a Gestalt pode ser expressa por uma lei interna, essa lei não<br />

deve ser considera<strong>da</strong> como um modelo segundo o qual se realizariam<br />

os fenômenos de estrutura. Sua aparição não é o desdobramento,<br />

no exterior, de uma razão preexistente. Não é<br />

porque a "forma" realiza um certo estado de equilíbrio, resolve<br />

um problema de máximo e, no sentido kantiano, torna<br />

possível um mundo que ela é privilegia<strong>da</strong> em nossa percepção;<br />

ela é a própria aparição do mundo e não sua condição<br />

de possibili<strong>da</strong>de, é o nascimento de uma norma e não se realiza<br />

segundo uma norma, é a identi<strong>da</strong>de entre o exterior e<br />

o interior e não a projeção do interior no exterior. Portanto,<br />

se ela não resulta de uma circulação de estados psíquicos em<br />

si, não é mais uma idéia. A Gestalt de um círculo não é sua<br />

lei matemática, mas sua fisionomia. O reconhecimento dos<br />

fenômenos enquanto ordem original condena o empirismo enquanto<br />

explicação <strong>da</strong> ordem e <strong>da</strong> razão pelo encontro entre fatos<br />

e pelos acasos <strong>da</strong> natureza, mas conserva para a própria<br />

razão e para a própria ordem o caráter <strong>da</strong> factici<strong>da</strong>de. Se fosse<br />

possível uma consciência constituinte universal, a opaci<strong>da</strong>de<br />

do fato desapareceria. Portanto, se queremos que a reflexão<br />

conserve os caracteres descritivos do objeto ao qual ela<br />

se dirige e o compreen<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deiramente, não devemos considerá-la<br />

como o simples retorno a uma razão universal, realizá-la<br />

antecipa<strong>da</strong>mente no irrefletido, devemos considerá-la<br />

como uma operação criadora que participa ela mesma <strong>da</strong> factici<strong>da</strong>de<br />

do irrefletido. É por isso que a fenomenologia é a<br />

única entre to<strong>da</strong>s as filosofias a falar de um campo transcendental.<br />

Esta palavra significa que a reflexão nunca tem sob<br />

seu olhar o mundo inteiro e a plurali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s môna<strong>da</strong>s desdobra<strong>da</strong>s<br />

e objetiva<strong>da</strong>s, que ela só dispõe de uma visão parcial<br />

e de uma potência limita<strong>da</strong>. E por isso também que a

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