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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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432 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

e pelo mundo. Não se pode, dizíamos, conceber coisa percebi<strong>da</strong><br />

sem alguém que a perceba. Mas, além disso, a coisa se<br />

apresenta àquele mesmo que a percebe como coisa em si, e<br />

ela põe o problema de um ver<strong>da</strong>deiro em-si-para-nós. Ordinariamente,<br />

não nos advertimos disso porque nossa percepção,<br />

no contexto de nossas ocupações, se põe sobre as coisas<br />

apenas o suficiente para reencontrar sua presença familiar,<br />

e não o bastante para redescobrir aquilo que ali se esconde<br />

de inumano. Mas a coisa nos ignora, ela repousa em si. Nós<br />

a veremos se colocarmos em suspenso nossas ocupações e dirigirmos<br />

a ela uma atenção metafísica e desinteressa<strong>da</strong>. Agora<br />

ela é hostil e estranha, para nós ela não é mais um interlocutor,<br />

mas um Outro resolutamente silencioso, um Si que nos<br />

escapa tanto quanto a intimi<strong>da</strong>de de uma consciência alheia.<br />

A coisa e o mundo, dizíamos, se oferecem à comunicação perceptiva<br />

como um rosto familiar cuja expressão é logo compreendi<strong>da</strong>.<br />

Mas justamente um rosto só exprime algo pelo<br />

arranjo <strong>da</strong>s cores e <strong>da</strong>s luzes que o compõem, o sentido deste<br />

olhar não está atrás dos olhos, ele está neles, e ao pintor basta<br />

uma aplicação de cor a mais ou a menos para transformar<br />

o olhar de um retrato. Em suas obras de juventude, Cézanne<br />

procurava pintar em primeiro lugar a expressão, e era por<br />

isso que ele a perdia. Ele aprendeu pouco a pouco que a expressão<br />

é a linguagem <strong>da</strong> coisa mesma e nasce de sua configuração.<br />

Sua pintura é uma tentativa de encontrar a fisionomia<br />

<strong>da</strong>s coisas e dos rostos pela restituição integral de sua configuração<br />

sensível. E isso que a ca<strong>da</strong> momento a natureza faz<br />

sem esforço. E é por isso que as paisagens de Cézanne são<br />

"aquelas de um pré-mundo onde ain<strong>da</strong> não havia homens" 55 .<br />

Há pouco a coisa nos aparecia como o termo de uma teleologia<br />

corporal, a norma de nossa montagem psicofisiológica.<br />

Mas esta era apenas uma definição psicológica que não explicita<br />

o sentido integral do definido, e que reduz a coisa às<br />

experiências nas quais nós a encontramos. Descobrimos agora

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