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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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PREFACIO 5<br />

sa experiência do mundo, remonta ao sujeito como a uma<br />

condição de possibili<strong>da</strong>de distinta dela, e mostra a síntese universal<br />

como aquilo sem o que não haveria mundo. Nessa medi<strong>da</strong>,<br />

ela deixa de aderir à nossa experiência, ela substitui a<br />

um relato uma reconstrução. Compreende-se através disso<br />

que Husserl tenha podido censurar em Kant um "psicologismo<br />

<strong>da</strong>s facul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> alma" 3 e opor a uma análise noética<br />

que faz o mundo repousar na ativi<strong>da</strong>de sintética do sujeito<br />

a sua "reflexão noemática", que reside no objeto e explicita<br />

sua uni<strong>da</strong>de primordial em lugar de engendrá-la.<br />

O mundo está ali antes de qualquer análise que eu possa<br />

fazer dele, e seria artificial fazê-lo derivar de uma série de<br />

sínteses que ligariam as sensações, depois os aspectos perspectivos<br />

do objeto, quando ambos são justamente produtos<br />

<strong>da</strong> análise e não devem ser realizados antes dela. A análise<br />

reflexiva acredita seguir em sentido inverso o caminho de uma<br />

constituição prévia, e atingir no "homem interior", como diz<br />

santo Agostinho, um poder constituinte que ele sempre foi.<br />

Assim a reflexão arrebata-se a si mesma e se recoloca em uma<br />

subjetivi<strong>da</strong>de invulnerável, para aquém do ser e do tempo.<br />

Mas isso é uma ingenui<strong>da</strong>de ou, se se preferir, uma reflexão<br />

incompleta que perde a consciência de seu próprio começo.<br />

Eu comecei a refletir, minha reflexão é reflexão sobre um irrefletido,<br />

ela não pode ignorar-se a si mesma como acontecimento,<br />

logo ela se manifesta como uma ver<strong>da</strong>deira criação,<br />

como uma mu<strong>da</strong>nça de estrutura <strong>da</strong> consciência, e cabe-lhe<br />

reconhecer, para aquém de suas próprias operações, o mundo<br />

que é <strong>da</strong>do ao sujeito, porque o sujeito é <strong>da</strong>do a si mesmo.<br />

O real deve ser descrito, não construído ou constituído. Isso<br />

quer dizer que não posso assimilar a percepção às sínteses que<br />

são <strong>da</strong> ordem do juízo, dos atos ou <strong>da</strong> predicação. A ca<strong>da</strong><br />

momento, meu campo perceptivo é preenchido de reflexos,<br />

de estalidos, de impressões táteis fugazes que não posso ligar<br />

de maneira precisa ao contexto percebido e que, to<strong>da</strong>via, eu

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