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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 93<br />

buía à palavra "ser", levava-o a realizar a consciência sob<br />

o nome de "fato psíquico", desviava-o assim de uma ver<strong>da</strong>deira<br />

toma<strong>da</strong> de consciência ou do ver<strong>da</strong>deiro imediato, e tornava<br />

como que derrisórias as precauções que ele multiplicava<br />

para não deformar o "interior". Era isso que acontecia<br />

ao empirismo quando ele substituía o mundo físico por um<br />

mundo de acontecimentos interiores. E isso que ain<strong>da</strong> acontece<br />

a Bergson no momento mesmo em que ele opõe a "multiplici<strong>da</strong>de<br />

de fusão" à "multiplici<strong>da</strong>de de justaposição". Pois<br />

aqui ain<strong>da</strong> se trata de dois gêneros de ser. Apenas se substituiu<br />

a energia mecânica por uma energia espiritual, o ser descontínuo<br />

do empirismo por um ser fluido, mas do qual se diz<br />

que ele se escoa, e que se descreve na terceira pessoa. Ao considerar<br />

a Gestalt como tema de sua reflexão, o psicólogo rompe<br />

com o psicologismo, já que o sentido, a conexão, a "ver<strong>da</strong>de"<br />

do percebido não resultam mais do encontro fortuito<br />

entre nossas sensações, tais como nossa natureza psicofisiológica<br />

as oferece a nós, mas determinam seus valores espaciais<br />

e qualitativos 11 e são sua configuração irredutível. Isso<br />

significa que a atitude transcendental já está implica<strong>da</strong> nas<br />

descrições do psicólogo, por pouco fiéis que elas sejam. A consciência<br />

enquanto objeto de estudo apresenta esta particulari<strong>da</strong>de<br />

de não poder ser analisa<strong>da</strong>, mesmo ingenuamente, sem<br />

levar para além dos postulados do senso comum. Se, por<br />

exemplo, nos propomos a fazer uma psicologia positiva <strong>da</strong><br />

percepção, admitindo que a consciência está encerra<strong>da</strong> no corpo<br />

e sofre, através dele, a ação de um mundo em si, somos<br />

conduzidos a descrever o objeto e o mundo tais como eles aparecem<br />

à consciência e, através disso, a nos perguntar se este<br />

mundo imediatamente presente, o único que conhecemos, não<br />

é também o único do qual convém falar. Uma psicologia sempre<br />

é leva<strong>da</strong> ao problema <strong>da</strong> constituição do mundo.<br />

A reflexão psicológica, uma vez inicia<strong>da</strong>, ultrapassa-se<br />

então por seu movimento próprio. Depois de ter reconhecido

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