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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PA RA -SI E O SER-NO-MUNDO 51 5<br />

paralela ao lado oposto, fazer intervir o teorema concernente<br />

às paralelas e sua secante, isso só é possível se considero o<br />

próprio triângulo desenhado no papel, no quadro-negro ou<br />

no imaginário, sua fisionomia, o arranjo concreto de suas linhas,<br />

sua Gestalt. Não está justamente ali a essência ou a idéia<br />

do triângulo? — Comecemos por afastar a idéia de uma essência<br />

formal do triângulo. O que quer que se deva pensar<br />

<strong>da</strong>s tentativas de formalização, em qualquer caso é certo que<br />

elas não pretendem fornecer uma lógica <strong>da</strong> invenção, e que<br />

não se pode construir uma definição lógica do triângulo que<br />

iguale em fecundi<strong>da</strong>de a visão <strong>da</strong> figura e nos permita, por<br />

uma série de operações formais, chegar a conclusões que não<br />

teriam sido estabeleci<strong>da</strong>s em primeiro lugar com o auxílio <strong>da</strong><br />

intuição. Isso só diz respeito, dir-se-á talvez, às circunstâncias<br />

psicológicas <strong>da</strong> descoberta, e, se depois é possível estabelecer<br />

entre a hipótese e a conclusão um elo que não deva<br />

na<strong>da</strong> à intuição, é porque ela não é o mediador obrigatório<br />

do pensamento, e porque ela não tem lugar algum em lógica.<br />

Mas, que a formalização seja sempre retrospectiva, isso<br />

prova que só aparentemente ela é completa, e que o pensamento<br />

formal vive do pensamento intuitivo. Ela desvela os<br />

axiomas não-formulados sobre os quais se diz que o raciocínio<br />

repousa, parece que ela lhe traz um acréscimo de rigor<br />

e que põe a nu os fun<strong>da</strong>mentos de nossa certeza, mas na reali<strong>da</strong>de<br />

o lugar em que a certeza se forma e em que uma ver<strong>da</strong>de<br />

aparece é sempre o pensamento intuitivo, embora ali<br />

os princípios sejam tacitamente assumidos ou justamente por<br />

essa razão. Não haveria experiência <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e na<strong>da</strong> deteria<br />

a "volubili<strong>da</strong>de de nosso espírito" se nós pensássemos viformae,<br />

e se em primeiro lugar as relações formais não se oferecessem<br />

a nós cristaliza<strong>da</strong>s em algo particular. Nós não seríamos<br />

nem mesmo capazes de fixar uma hipótese para dela deduzir<br />

as conseqüências, se não começássemos por considerála<br />

como ver<strong>da</strong>deira. Uma hipótese é aquilo que se supõe ver-

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