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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 569<br />

parência absoluta, pois um tal sujeito seria definitivamente<br />

incapaz de decair no tempo e não teria portanto na<strong>da</strong> de comum<br />

com nossa experiência — ela é a consciência do presente.<br />

No presente, na percepção, meu ser e minha consciência<br />

são um e o mesmo, não que meu ser se reduza ao conhecimento<br />

que dele tenho e esteja claramente exposto diante de<br />

mim — ao contrário, a percepção é opaca, ela põe em questão,<br />

abaixo <strong>da</strong>quilo que eu conheço, meus campos sensoriais,<br />

minhas cumplici<strong>da</strong>des primitivas com o mundo —, mas porque<br />

aqui "ter consciência" não é senão "ser em..." e porque<br />

minha consciência de existir confunde-se com o gesto efetivo<br />

de "ex-situação" 14 . É comunicando-nos com o mundo<br />

que indubitavelmente nos comunicamos com nós mesmos.<br />

Nós temos o tempo por inteiro e estamos presentes a nós mesmos<br />

porque estamos presentes no mundo.<br />

Se é assim, e se a consciência se enraíza no ser e no tempo<br />

assumindo ali uma situação, como podemos descrevê-la?<br />

E preciso que ela seja um projeto global ou uma visão do tempo<br />

e do mundo que para manifestar-se, para tornar-se explicitamente<br />

aquilo que implicitamente ela é, quer dizer, consciência,<br />

precisa desenvolver-se no múltiplo. Nós não devemos<br />

realizar à parte nem a potência indivisa, nem suas manifestações<br />

distintas, a consciência não é um ou o outro, ela<br />

é um e o outro, ela é o próprio movimento de temporalização<br />

e, como diz Husserl, de "fluxão", um movimento que<br />

se antecipa, um fluxo que não se abandona. Tentemos<br />

descrevê-la melhor a partir de um exemplo. O romancista,<br />

o psicólogo que não remonta às fontes e toma a temporalização<br />

inteiramente pronta, vê a consciência como uma multiplici<strong>da</strong>de<br />

de fatos psíquicos entre os quais ele tenta estabelecer<br />

relações de causali<strong>da</strong>de. Por exemplo 15 , Proust mostra<br />

como o amor de Swann por Odete acarreta o ciúme que, por<br />

sua vez, modifica o amor, já que Swann, sempre preocupado<br />

em arrebatá-la de qualquer outro, perde o tempo disponível

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