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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 311<br />

psicofísico. Diremos então que a diplopia se produz porque nossos<br />

olhos não convergem para o objeto e porque em nossas<br />

duas retinas se formam imagens não-simétricas? Diremos que<br />

as duas imagens se fundem porque a fixação as reconduz a<br />

pontos homólogos <strong>da</strong>s duas retinas? Mas a divergência e a<br />

convergência dos olhos são a causa ou o efeito <strong>da</strong> diplopia<br />

e <strong>da</strong> visão normal? Nos cegos de nascença operados <strong>da</strong> catarata<br />

não se poderia dizer, no período que se segue à operação,<br />

se é a incoordenação dos olhos que impede a visão ou<br />

se é a confusão do campo visual que favorece a incoordenação<br />

— se eles não vêem por não fixar ou se não fixam por<br />

não ter algo para ver. Quando olho para o infinito e, por<br />

exemplo, um de meus dedos situado perto de meus olhos projeta<br />

sua imagem em pontos não-simétricos de minhas retinas,<br />

a disposição <strong>da</strong>s imagens nas retinas não pode ser a causa<br />

do movimento de fixação que porá fim à diplopia. Pois,<br />

como se fez observar 55 , o desaparecimento <strong>da</strong>s imagens não<br />

existe em si. Meu dedo forma sua imagem em uma certa área<br />

de minha retina esquer<strong>da</strong> e em uma área <strong>da</strong> retina direita<br />

que não é simétrica à primeira. Mas a área simétrica <strong>da</strong> retina<br />

direita é preenchi<strong>da</strong>, ela também, de excitações visuais;<br />

a repartição dos estímulos nas duas retinas só é "dissimétrica"<br />

em relação a um sujeito que compara as duas constelações<br />

e as identifica. Nas próprias retinas, considera<strong>da</strong>s como<br />

objetos, só existem dois conjuntos de estímulos incomparáveis.<br />

Responder-se-á talvez que, a menos que haja um movimento<br />

de fixação, esses dois conjuntos não podem sobrepor-se,<br />

nem <strong>da</strong>r lugar à visão de coisa alguma, e que nesse sentido<br />

sua presença, por si só, cria um estado de desequilíbrio. Mas<br />

isso é justamente admitir aquilo que procuramos mostrar, que<br />

a visão de um objeto único não é um simples resultado <strong>da</strong><br />

fixação, que ela é antecipa<strong>da</strong> no próprio ato de fixação ou<br />

que, como o disseram, a fixação do olhar é uma "ativi<strong>da</strong>de<br />

prospectiva" 56 . Para que meu olhar se reporte aos objetos

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