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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 51<br />

que aliás pode ser confuso e distante. Nossa percepção pressente,<br />

sob o quadro, a presença próxima <strong>da</strong> tela; sob o monumento,<br />

a do cimento que se pulveriza; sob o personagem, a do<br />

ator que se fatiga. Mas a natureza <strong>da</strong> qual o empirismo fala<br />

é uma soma de estímulos e de quali<strong>da</strong>des. É absurdo pretender<br />

que essa natureza seja, mesmo que só em intenção, o objeto<br />

primeiro de nossa percepção: ela é muito posterior à experiência<br />

dos objetos culturais, ou, antes, ela é um deles. Precisaremos<br />

portanto redescobrir também o mundo natural e seu<br />

modo de existência, que não se confunde com aquele do objeto<br />

científico. Que o fundo continue sob a figura, que seja visto sob<br />

a figura, quando to<strong>da</strong>via ela o recobre, este fenômeno que envolve<br />

todo o problema <strong>da</strong> presença do objeto é, ele também, escondido<br />

pela filosofia empirista, que trata essa parte do fundo<br />

como invisível, em virtude de uma definição fisiológica <strong>da</strong> visão,<br />

e a reconduz à condição de simples quali<strong>da</strong>de sensível, supondo<br />

que ela é <strong>da</strong><strong>da</strong> por uma imagem, quer dizer, por uma<br />

sensação enfraqueci<strong>da</strong>. Mais geralmente, os objetos reais que<br />

não fazem parte de nosso campo visual só nos podem estar presentes<br />

por imagens, e é por isso que eles são apenas "possibili<strong>da</strong>des<br />

permanentes de sensações". Se abandonamos o postulado<br />

empirista <strong>da</strong> priori<strong>da</strong>de dos conteúdos, estamos livres para<br />

reconhecer o modo de existência singular do objeto atrás de<br />

nós. A criança histérica que se volta "para ver se o mundo ain<strong>da</strong><br />

está ali atrás dela" 15 não carece de imagens, mas o mundo<br />

percebido perdeu para ela a estrutura original que, para o normal,<br />

torna seus aspectos escondidos tão certos quanto os aspectos<br />

visíveis. Mais uma vez, o empirista pode sempre construir,<br />

reunindo átomos psíquicos dos equivalentes aproximados<br />

de to<strong>da</strong>s essas estruturas. Mas o inventário do mundo percebido,<br />

nos capítulos seguintes, fará com que ca<strong>da</strong> vez mais<br />

ele se manifeste como um tipo de cegueira mental e como o sistema<br />

menos capaz de esgotar a experiência revela<strong>da</strong>, enquanto<br />

a reflexão compreende sua ver<strong>da</strong>de subordina<strong>da</strong> colocando-a<br />

em seu lugar.

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