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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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140 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

um pensamento mágico do qual a psicologia e a sociologia<br />

estu<strong>da</strong>m as leis e que elas fazem regressar, a título de objeto<br />

de ciência, ao sistema do mundo ver<strong>da</strong>deiro. A incompletude<br />

de meu corpo, sua apresentação marginal, sua ambigüi<strong>da</strong>de<br />

enquanto corpo tocante e corpo tocado não podiam então<br />

ser traços de estrutura do próprio corpo; não afetavam sua<br />

idéia, tornavam-se os "caracteres distintivos" dos conteúdos<br />

de consciência que compõem nossa representação do corpo:<br />

esses conteúdos são constantes, afetivos e bizarramente emparelhados<br />

em "sensações duplas", mas, com exceção disso,<br />

a representação do corpo é uma representação como as outras<br />

e, correlativamente, o corpo é um objeto como os outros.<br />

Os psicólogos não percebiam que, ao tratar assim a experiência<br />

do corpo, eles apenas adiavam, em consonância com<br />

a ciência, um problema inevitável. A Íncompletude de minha<br />

percepção era compreendi<strong>da</strong> como uma Íncompletude de<br />

fato, que resultava <strong>da</strong> organização de meus aparelhos sensoriais;<br />

a presença de meu corpo, como uma presença de fato que<br />

resultava de sua ação perpétua sobre meus receptores nervosos;<br />

enfim, a união entre a alma e o corpo, suposta por essas<br />

duas explicações, era compreendi<strong>da</strong>, segundo o pensamento<br />

de Descartes, como uma união de fato cuja possibili<strong>da</strong>de de princípio<br />

não precisava ser estabeleci<strong>da</strong> porque o fato, ponto de<br />

parti<strong>da</strong> do conhecimento, eliminava-se de seus resultados acabados.<br />

Ora, o psicólogo podia por um momento, à maneira<br />

dos cientistas, olhar seu próprio corpo através dos olhos do<br />

outro, e ver o corpo do outro, por sua vez, como uma mecânica<br />

sem interior. A contribuição <strong>da</strong>s experiências alheias vinha<br />

apagar a estrutura <strong>da</strong> sua, e reciprocamente, tendo perdido<br />

contato consigo mesmo, ele se tornava cego ao comportamento<br />

do outro. Instalava-se assim em um pensamento universal<br />

que recalcava tanto sua experiência do outro como sua<br />

experiência de si mesmo. Mas enquanto psicólogo ele estava<br />

envolvido em uma tarefa que o chamava de volta a si mes-

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