12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 81<br />

ção de causa como determinante exterior de seu efeito, e a de<br />

razão como a lei de constituição intrínseca do fenômeno. Ora,<br />

a percepção do corpo próprio e a percepção externa, acabamos<br />

de vê-lo, oferecem-nos o exemplo de uma consciência<br />

não-tética, quer dizer, de uma consciência que não possui a<br />

plena determinação de seus objetos, a de uma lógica vivi<strong>da</strong> que<br />

não dá conta de si mesma, e a de uma significação imanente que<br />

não é para si clara e se conhece apenas pela experiência de<br />

certos signos naturais. Esses fenômenos são inassimiláveis pelo<br />

pensamento objetivo, e eis por que a Gestalttheorie, que, como<br />

to<strong>da</strong> psicologia, é prisioneira <strong>da</strong>s "evidências" <strong>da</strong> ciência e<br />

do mundo, só pode escolher entre a razão e a causa, eis por<br />

que to<strong>da</strong> crítica do intelectualismo desemboca, em suas mãos,<br />

em uma restauração do realismo e do pensamento causai. Ao<br />

contrário, a noção fenomenológica de motivação é um desses<br />

conceitos "fluentes" 44 que é preciso formar se se quer retornar<br />

aos fenômenos. Um fenômeno desencadeia um outro não<br />

por uma eficácia objetiva, como a que une os acontecimentos<br />

<strong>da</strong> natureza, mas pelo sentido que ele oferece — há uma<br />

razão de ser que orienta o fluxo dos fenômenos sem estar explicitamente<br />

posta em nenhum deles, um tipo de razão operante.<br />

É assim que a intenção de olhar para a esquer<strong>da</strong> e a<br />

aderência <strong>da</strong> paisagem ao olhar motivam a ilusão de um movimento<br />

no objeto. A medi<strong>da</strong> que o fenômeno motivado se<br />

realiza, sua relação interna ao fenômeno motivante aparece,<br />

e, em lugar de apenas sucedê-lo, ele o explicita e o faz compreender,<br />

de maneira que ele parece ter preexistido ao seu<br />

próprio motivo. Assim, o objeto à distância e sua projeção<br />

física nas retinas explicam a dispari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens e, por<br />

uma ilusão retrospectiva, nós falamos, com Malebranche, de<br />

uma geometria natural <strong>da</strong> percepção, colocamos antecipa<strong>da</strong>mente<br />

na percepção uma ciência que é construí<strong>da</strong> sobre ela,<br />

e perdemos de vista a relação original de motivação, em que<br />

a distância surge antes de to<strong>da</strong> ciência, não de um juízo so-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!