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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-S1 E O SER-NO-MUNDO 551<br />

na nascente. Os "acontecimentos" são recortados, por um<br />

observador finito, na totali<strong>da</strong>de espaço-temporal do mundo<br />

objetivo. Mas, se considero este próprio mundo, só há um<br />

único ser indivisível e que não mu<strong>da</strong>. A mu<strong>da</strong>nça supõe um<br />

certo posto onde eu me coloco e de onde vejo as coisas desfilarem;<br />

não há acontecimento sem alguém a quem eles advenham,<br />

e do qual a perspectiva finita fun<strong>da</strong> sua individuali<strong>da</strong>de.<br />

O tempo supõe uma visão sobre o tempo. Portanto,<br />

ele não é como um riacho, ele não é uma substância fluente.<br />

Se essa metáfora pôde conservar-se de Heráclito até hoje é<br />

porque, sub-repticiamente, nós colocamos no riacho um testemunho<br />

de seu curso. Nós já o fazemos quando dizemos que<br />

o riacho se escoa, já que isso significa conceber, ali onde só<br />

existe uma coisa inteiramente exterior a si mesma, uma individuali<strong>da</strong>de<br />

ou um interior do riacho que desdobra, no exterior,<br />

as suas manifestações. Ora, a partir do momento em<br />

que introduzo o observador, quer ele siga o curso do riacho<br />

ou quer, <strong>da</strong> margem do rio, ele constate sua passagem, as<br />

relações do tempo se invertem. No segundo caso, as massas<br />

de água já escoa<strong>da</strong>s não vão em direção ao porvir, elas se perdem<br />

no passado; o por-vir está do lado <strong>da</strong> nascente e o tempo<br />

não vem do passado. Não é o passado que empurra o presente<br />

nem o presente que empurra o futuro para o ser; o porvir<br />

não é preparado atrás do observador, ele se premedita em<br />

frente dele, como a tempestade no horizonte. Se o observador,<br />

situado em um barco, segue a corrente, pode-se dizer<br />

que com a corrente ele desce em direção ao seu porvir, mas<br />

o porvir são as paisagens novas que o esperam no estuário,<br />

e o curso do tempo não é mais o próprio riacho: ele é o desenrolar<br />

<strong>da</strong>s paisagens para o observador em movimento. Portanto,<br />

o tempo não é um processo real, uma sucessão efetiva<br />

que eu me limitaria a registrar. Ele nasce de minha relação<br />

com as coisas. Nas próprias coisas, o porvir e o passado estão<br />

em uma espécie de preexistência e de sobrevivência eternas;

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