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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 309<br />

do aço, a maleabili<strong>da</strong>de do aço incandescente, a dureza <strong>da</strong><br />

lâmina em uma plaina, a moleza <strong>da</strong>s aparas. A forma dos<br />

objetos não é seu contorno geométrico: ela tem uma certa relação<br />

com sua natureza própria e fala a todos os nossos sentidos<br />

ao mesmo tempo em que fala à visão. A forma de uma<br />

prega em um tecido de linho ou de algodão nos faz ver a flexibili<strong>da</strong>de<br />

ou a secura <strong>da</strong> fibra, a frieza ou o calor do tecido.<br />

Enfim, o movimento dos objetos visíveis não é o simples deslocamento<br />

<strong>da</strong>s manchas de cor que lhes correspondem no campo<br />

visual. No movimento do galho que um pássaro acaba de<br />

abandonar, lemos sua flexibili<strong>da</strong>de ou sua elastici<strong>da</strong>de, e é<br />

assim que um galho de macieira e um galho de bétula imediatamente<br />

se distinguem. Vemos o peso de um bloco de ferro<br />

que se afun<strong>da</strong> na areia, a fluidez <strong>da</strong> água, a viscosi<strong>da</strong>de<br />

do xarope 50 . Da mesma maneira, no ruído de um automóvel<br />

ouço a dureza e a desigual<strong>da</strong>de dos paralelepípedos, e com<br />

razão fala-se em um ruído "frouxo", "embaçado" ou "seco".<br />

Se se pode duvi<strong>da</strong>r de que a audição nos dê ver<strong>da</strong>deiras<br />

"coisas", pelo menos é certo que ela nos oferece, para além<br />

dos sons no espaço, algo que "rumoreja" e, através disso,<br />

ela se comunica com os outros sentidos 51 . Enfim, se curvo,<br />

com os olhos fechados, uma haste de aço e um galho de tflia,<br />

percebo entre minhas mãos a textura mais secreta do metal<br />

e <strong>da</strong> madeira. Portanto, se considerados como quali<strong>da</strong>des incomparáveis,<br />

os "<strong>da</strong>dos dos diferentes sentidos" dependem<br />

de tantos mundos separados, ca<strong>da</strong> um deles, em sua essência<br />

particular, sendo uma maneira de modular a coisa, todos eles<br />

se comunicam através de seu núcleo significativo.<br />

É preciso apenas precisar a natureza <strong>da</strong> significação sensível,<br />

sem o que voltaríamos à análise intelectualista que mais<br />

acima descartamos. E a mesma mesa que toco e que vejo.<br />

Mas seria preciso acrescentar, como já se fez: é a mesma sonata<br />

que eu ouço e que Helen Keller toca, é o mesmo homem<br />

que eu vejo e que um pintor cego pinta? 52 Pouco a pouco

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