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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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426 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

simbiose, uma certa maneira que o exterior tem de nos invadir,<br />

uma certa maneira que nós temos de acolhê-lo, e aqui<br />

a recor<strong>da</strong>ção apenas resgata a armação <strong>da</strong> percepção <strong>da</strong> qual<br />

ela nasceu. Se as constantes de ca<strong>da</strong> sentido são compreendi<strong>da</strong>s<br />

assim, não se poderá tratar de definir a coisa intersensorial<br />

em que elas se unem por um conjunto de atributos estáveis<br />

ou pela noção deste conjunto. As "proprie<strong>da</strong>des" sensoriais<br />

de uma coisa constituem em conjunto uma mesma coisa,<br />

assim como meu olhar, meu tato e todos os meus outros<br />

sentidos são em conjunto as potências de um mesmo corpo<br />

integra<strong>da</strong>s em uma só ação. A superfície que vou reconhecer<br />

como superfície <strong>da</strong> mesa, quando a olho vagamente já me convi<strong>da</strong><br />

a uma focalização e reclama os movimentos de fixação<br />

que lhe <strong>da</strong>rão seu aspecto "ver<strong>da</strong>deiro". Da mesma maneira,<br />

todo objeto <strong>da</strong>do a um sentido chama a si a operação concor<strong>da</strong>nte<br />

de todos os outros. Vejo uma cor de superfície porque<br />

tenho um campo visual e porque o arranjo do campo conduz<br />

meu olhar até ela; percebo uma coisa porque tenho ura<br />

campo de existência e porque ca<strong>da</strong> fenômeno aparecido polariza<br />

em direção a si todo o meu corpo enquanto sistema de<br />

potência perceptivas. Atravesso as aparências, chego à cor ou<br />

à forma real quando minha experiência está em seu mais alto<br />

grau de nitidez, e Berkeley pode opor-me que uma mosca<br />

veria o mesmo objeto de outra maneira ou que um microscópio<br />

mais potente o transformaria: essas diferentes aparências<br />

são para mim aparências de um certo espetáculo ver<strong>da</strong>deiro,<br />

aquele em que a configuração percebi<strong>da</strong>, para uma nitidez<br />

suficiente, chega ao seu máximo de riqueza 48 . Tenho objetos<br />

visuais porque tenho um campo visual em que a riqueza<br />

e a nitidez estão em razão inversa uma <strong>da</strong> outra, e porque<br />

estas duas exigências, <strong>da</strong>s quais ca<strong>da</strong> uma toma<strong>da</strong> à parte iria<br />

ao infinito, uma vez reuni<strong>da</strong>s determinam no processo perceptivo<br />

um certo ponto de maturi<strong>da</strong>de e um máximo. Da mesma<br />

maneira, chamo de experiência <strong>da</strong> coisa ou <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de

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