12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O MUNDO PERCEBIDO 429<br />

correlativo de meu corpo e, mais geralmente, de minha existência,<br />

<strong>da</strong> qual meu corpo é apenas a estrutura estabiliza<strong>da</strong>,<br />

ela se constitui no poder de meu corpo sobre ela, ela não é<br />

em primeiro lugar uma significação para o entendimento, mas<br />

uma estrutura acessível à inspeção do corpo, e, se queremos<br />

descrever o real tal como ele nos aparece na experiência perceptiva,<br />

nós o encontramos carregado de predicados antropológicos.<br />

Como as relações entre as coisas ou entre os aspectos<br />

<strong>da</strong>s coisas são sempre media<strong>da</strong>s por nosso corpo, a natureza<br />

inteira é a encenação de nossa própria vi<strong>da</strong> ou nosso<br />

interlocutor em uma espécie de diálogo. Eis por que, em última<br />

análise, não podemos conceber coisa que não seja percebi<strong>da</strong><br />

ou perceptível. Como dizia Berkeley, mesmo um deserto<br />

nunca visitado tem pelo menos um espectador, e este<br />

somos nós mesmos quando pensamos nele, quer dizer, quando<br />

fazemos a experiência mental de percebê-lo. A coisa nunca<br />

pode ser separa<strong>da</strong> de alguém que a perceba, nunca pode ser<br />

efetivamente em si, porque suas articulações são as mesmas<br />

de nossa existência, e porque ela se põe na extremi<strong>da</strong>de de<br />

um olhar ou ao termo de uma investigação sensorial que a<br />

investe de humani<strong>da</strong>de. Nesse medi<strong>da</strong>, to<strong>da</strong> percepção é uma<br />

comunicação ou uma comunhão, a retoma<strong>da</strong> ou o acabamento,<br />

por nós, de uma intenção alheia ou, inversamente, a realização,<br />

no exterior, de nossas potências perceptivas e como<br />

um acasalamento de nosso corpo com as coisas. Se não se percebeu<br />

isso mais cedo, foi porque os prejuízos do pensamento<br />

objetivo tornavam difícil a toma<strong>da</strong> de consciência do mundo<br />

percebido. A função constante do pensamento objetivo é reduzir<br />

todos os fenômenos que atestam a união do sujeito e<br />

do mundo, e substituí-los pela idéia clara do objeto como em<br />

si e do sujeito como pura consciência. Ele rompe portanto<br />

os elos que unem a coisa e o sujeito encarnado e, para compor<br />

nosso mundo, só deixa subsistir as quali<strong>da</strong>des sensíveis,<br />

por exclusão dos modos de aparição que descrevemos, e de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!