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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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568 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

eterni<strong>da</strong>de é o tempo do sonho, e o sonho reenvia à vigília,<br />

à qual ele toma de empréstimo to<strong>da</strong>s as suas estruturas. Qual<br />

é então este tempo desperto em que a eterni<strong>da</strong>de se enraíza?<br />

Ele é o campo de presença no sentido amplo, com seu duplo<br />

horizonte de passado e de porvir originários e a infini<strong>da</strong>de<br />

aberta dos campos de presença findos ou possíveis. Só existe<br />

tempo para mim porque estou situado nele, quer dizer, porque<br />

me descubro já envolvido nele, porque todo ser não me<br />

é <strong>da</strong>do em pessoa, e enfim porque ura setor do ser me é tão<br />

próximo, que ele nem mesmo se expõe diante de mim e não<br />

posso vê-lo, assim como não posso ver meu rosto. Existe tempo<br />

para mim porque tenho um presente. É vindo ao presente<br />

que um momento do tempo adquire a individuali<strong>da</strong>de indelével,<br />

o "de uma vez por to<strong>da</strong>s" que lhe permitirão em segui<strong>da</strong><br />

atravessar o tempo e nos <strong>da</strong>rão a ilusão <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong>de.<br />

Nenhuma <strong>da</strong>s dimensões do tempo pode ser deduzi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s outras.<br />

Mas o presente (no sentido amplo, com seus horizontes<br />

de passado e de porvir originários) tem to<strong>da</strong>via um privilégio<br />

porque ele é a zona em que o ser e a consciência coincidem.<br />

Quando me recordo de uma percepção antiga, quando imagino<br />

uma visita a meu amigo Paulo que está no Brasil, é ver<strong>da</strong>de<br />

que viso o próprio passado em seu lugar, o próprio Paulo<br />

no mundo, e não algum objeto mental interposto. Mas enfim<br />

meu ato de representação, à diferença <strong>da</strong>s experiências<br />

representa<strong>da</strong>s, me está efetivamente presente, um é percebido,<br />

os outros justamente são apenas representados. Uma experiência<br />

antiga, uma experiência eventual precisam, para<br />

me aparecer, ser trazi<strong>da</strong>s ao ser por uma consciência primária,<br />

que é aqui minha percepção interior <strong>da</strong> rememoração ou<br />

<strong>da</strong> imaginação. Dizíamos acima que é preciso chegar a uma<br />

consciência que não tenha mais nenhuma outra atrás de si,<br />

que portanto apreen<strong>da</strong> seu próprio ser, e em que enfim ser<br />

e ser consciente sejam um e o mesmo. Esta consciência última<br />

não é um sujeito eterno que se aperceba em uma trans-

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