12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O MUNDO PERCEBIDO 287<br />

tos de minha percepção, pois esta noção é ambígua, eles só<br />

são instrumentos <strong>da</strong>- excitação corporal e não <strong>da</strong> própria percepção.<br />

Não há meio-termo entre o em si e o para si, e já<br />

que meus sentidos, sendo vários, não são eu mesmo, eles só<br />

podem ser objetos. Digo que meus olhos vêem, que minha<br />

mão toca, que meu pé dói, mas essas expressões ingênuas não<br />

traduzem minha experiência ver<strong>da</strong>deira. Elas já me dão dela<br />

uma interpretação que a afasta de seu sujeito original. Porque<br />

sei que a luz atinge meus olhos, que os contatos se fazem<br />

pela pele, que meu sapato fere meu pé, disperso em meu corpo<br />

as percepções que pertencem à minha alma, coloco a percepção<br />

no percebido. Mas aquilo é apenas o rastro espacial<br />

e temporal dos atos de consciência. Se os considero do interior,<br />

encontro um único conhecimento sem lugar, uma alma<br />

sem partes, e não há nenhuma diferença entre pensar e perceber,<br />

assim como entre ver e ouvir. Podemos manter-nos<br />

nessa perspectiva? Se é ver<strong>da</strong>de que não vejo com meus olhos,<br />

como pude ignorar sempre esta ver<strong>da</strong>de? Eu não sabia o que<br />

dizia, não tinha refletido? Mas, então, como eu podia não<br />

refletir? Como a inspeção do espírito, como a operação de<br />

meu próprio pensamento me pôde ser mascara<strong>da</strong>, já que meu<br />

pensamento, por definição, é para si mesmo? Se a reflexão<br />

quer justificar-se enquanto reflexão, quer dizer, enquanto progresso<br />

em direção à ver<strong>da</strong>de, ela não deve se limitar a substituir<br />

uma visão do mundo por uma outra, ela deve mostrarnos<br />

como a visão ingênua do mundo é compreendi<strong>da</strong> e ultrapassa<strong>da</strong><br />

na visão refleti<strong>da</strong>. A reflexão deve iluminar o irrefletido<br />

ao qual ela sucede e mostrar sua possibili<strong>da</strong>de para poder<br />

compreender-se a si mesma enquanto começo. Dizer que<br />

sou eu ain<strong>da</strong> que me penso como situado em um corpo e como<br />

provido de cinco sentidos evidentemente é apenas uma<br />

solução verbal, já que eu que reflito não posso reconhecerme<br />

nesse Eu encarnado, já que portanto a encarnação permanece<br />

por princípio uma ilusão e já que a possibili<strong>da</strong>de dessa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!