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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 69<br />

evoca, a título de limite, as quali<strong>da</strong>des múltiplas que são apenas<br />

o invólucro do objeto, e <strong>da</strong>li passa a uma consciência do<br />

objeto que possuiria sua lei ou seu segredo, e que por isso<br />

retiraria do desenvolvimento <strong>da</strong> experiência a sua contingência,<br />

e do objeto o seu estilo perceptivo. Esta passagem <strong>da</strong> tese<br />

ã antítese, esta mu<strong>da</strong>nça do pró ao contra que é o procedimento<br />

constante do intelectualismo deixam subsistir sem alteração<br />

o ponto de parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> análise; partia-se de um mundo<br />

em si que agia sobre nossos olhos para fazer-se ver por<br />

nós, tem-se agora uma consciência ou um pensamento do<br />

mundo, mas a própria natureza deste mundo não mudou:<br />

ele é sempre definido pela exteriori<strong>da</strong>de absoluta <strong>da</strong>s partes<br />

e apenas duplicado em to<strong>da</strong> a sua extensão por um pensamento<br />

que o constrói. Passa-se de uma objetivi<strong>da</strong>de absoluta<br />

a uma subjetivi<strong>da</strong>de absoluta, mas esta segun<strong>da</strong> idéia vale<br />

exatamente tanto quanto a primeira e só se sustenta contra<br />

ela, quer dizer, por ela. O parentesco entre o intelectualismo<br />

e o empirismo é assim muito menos visível e muito mais profundo<br />

do que se crê. Ele não se limita apenas à definição antropológica<br />

<strong>da</strong> sensação, <strong>da</strong> qual um e outro se servem, mas<br />

refere-se ao fato de que um e outro conservam a atitude natural<br />

ou dogmática, e a sobrevivência <strong>da</strong> sensação no intelectualismo<br />

é apenas um signo desse dogmatismo. O intelectualismo<br />

aceita como absolutamente fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s a idéia do ver<strong>da</strong>deiro<br />

e a idéia do ser nas quais se termina e se resume o trabalho<br />

constitutivo <strong>da</strong> consciência, e sua pretensa reflexão consiste<br />

em pôr como potências do sujeito tudo aquilo que é<br />

necessário para chegar a essas idéias. A atitude natural, lançando-me<br />

no mundo <strong>da</strong>s coisas, me dá a certeza de apreender<br />

um "real" para além <strong>da</strong>s aparências, o "ver<strong>da</strong>deiro" para<br />

além <strong>da</strong> ilusão. O valor dessas noções não é questionado pelo<br />

intelectualismo: trata-se apenas de conferir a um naturante<br />

universal o poder de reconhecer essa mesma ver<strong>da</strong>de absoluta<br />

que o realismo ingenuamente situa em uma natureza <strong>da</strong>-

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