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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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50 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

sência to<strong>da</strong>via eu apreendo em uma hesitação ou em uma reticência,<br />

a ci<strong>da</strong>de cuja estrutura to<strong>da</strong>via eu conheço em uma<br />

atitude do funcionário ou no estilo de um monumento. Aqui<br />

não pode mais haver espírito objetivo: a vi<strong>da</strong> mental retira-se<br />

em consciências isola<strong>da</strong>s e abandona<strong>da</strong>s apenas à introspecção,<br />

em lugar de desenrolar-se, como ela aparentemente o<br />

faz, no espaço humano composto por aqueles com quem discuto<br />

ou com quem vivo, o lugar de meu trabalho ou o de minha<br />

felici<strong>da</strong>de. A alegria e a tristeza, a vivaci<strong>da</strong>de e a idiotia<br />

são <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> introspecção, e, se revestimos com eles as paisagens<br />

ou os outros homens, é porque constatamos em nós<br />

mesmos a coincidência destas percepções interiores com signos<br />

exteriores que lhes são associados pelos acasos de nossa<br />

organização. A percepção assim empobreci<strong>da</strong> torna-se uma<br />

pura operação de conhecimento, um registro progressivo <strong>da</strong>s<br />

quali<strong>da</strong>des e de seu desenrolar mais costumeiro, e o sujeito<br />

que percebe está diante do mundo como o cientista diante<br />

de suas experiências. Ao contrário, se admitimos que to<strong>da</strong>s<br />

essas "projeções", to<strong>da</strong>s essas "associações", to<strong>da</strong>s essas<br />

"transferências" estão fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s em algum caráter intrínseco<br />

do objeto, o "mundo humano" deixa de ser uma metáfora<br />

para voltar a ser aquilo que com efeito ele é, o meio e como<br />

que a. pátria de nossos pensamentos. O sujeito que percebe<br />

deixa de ser um sujeito pensante "acósmico", e a ação,<br />

o sentimento e a vontade devem ser explorados como maneiras<br />

originais de pôr um objeto, já que "um objeto parece<br />

atraente ou repulsivo antes de parecer negro ou azul, circular<br />

ou quadrado" 14 . Mas o empirismo não deforma a experiência<br />

apenas fazendo do mundo cultural uma ilusão, quando<br />

ele é o alimento de nossa existência. O mundo natural,<br />

por seu lado, é desfigurado e pelas mesmas razões. O que censuramos<br />

no empirismo não é tê-lo considerado como primeiro<br />

tema de análise. Pois é ver<strong>da</strong>de que todo objeto cultural<br />

remete a um fundo de natureza sobre o qual ele aparece, e

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