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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 427<br />

— não mais de uma reali<strong>da</strong>de-para-a-visão ou para-o-tato apenas,<br />

mas de uma reali<strong>da</strong>de absoluta — a minha plena coexistência<br />

com o fenômeno, o momento em que sob todos os aspectos<br />

ele estaria em seu máximo de articulação, e os "<strong>da</strong>dos<br />

dos diferentes sentidos" estão orientados em direção a este<br />

pólo único, assim como, ao microscópio, minhas diferentes<br />

visa<strong>da</strong>s oscilam em torno de uma visa<strong>da</strong> privilegia<strong>da</strong>. Não<br />

chamarei de coisa visual um fenômeno que, como as superfícies<br />

colori<strong>da</strong>s, não apresenta nenhum máximo de visibili<strong>da</strong>de<br />

através <strong>da</strong>s diferentes experiências que dele tenho, ou que,<br />

como o céu, distante e fino no horizonte, mal localizado e difuso<br />

no zênite, deixa-se contaminar pelas estruturas mais próximas<br />

dele e não lhes opõe nenhuma configuração própria.<br />

Se um fenômeno -— seja por exemplo um reflexo ou um sopro<br />

leve do vento — só se oferece a um de meus sentidos,<br />

ele é um fantasma, e só se aproximará <strong>da</strong> existência real se,<br />

por acaso, ele se tornar capaz de falar aos meus outros sentidos,<br />

como por exemplo o vento quando é violento e se faz<br />

visível na agitação <strong>da</strong> paisagem. Cézanne dizia que um quadro<br />

contém em si até o odor <strong>da</strong> paisagem 49 . Ele queria dizer<br />

que o arranjo <strong>da</strong> cor na coisa (e na obra de arte se ela retoma<br />

totalmente a coisa) significa por si mesmo to<strong>da</strong>s as respostas<br />

que ela <strong>da</strong>ria a uma interrogação dos outros sentidos, que uma<br />

coisa não teria essa cor se não tivesse também essa forma,<br />

essas proprie<strong>da</strong>des táteis, essa sonori<strong>da</strong>de, esse odor, e que<br />

a coisa é a plenitude absoluta que minha existência indivisa<br />

projeta diante de si mesma. A uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coisa para além<br />

de to<strong>da</strong>s as suas proprie<strong>da</strong>des fixas não é um substrato, um<br />

X vazio, um sujeito de inerência, mas esta entonação única<br />

que se reconhece em ca<strong>da</strong> uma delas, essa maneira única de<br />

existir <strong>da</strong> qual elas são uma expressão secundária. Por exemplo,<br />

a fragili<strong>da</strong>de, a rigidez, a transparência e o som cristalino<br />

de um vidro traduzem uma maneira de ser única. Se um<br />

doente vê o diabo, ele vê também seu odor, suas chamas e

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