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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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254 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

a linguagem, concebe-se que a fala possa, como um gesto,<br />

significar sobre o fundo mental comum. Mas as formas sintáticas<br />

e as do vocabulário, que aqui são pressupostas, trazem<br />

em si mesmas seu sentido? Vê-se muito bem o que há<br />

de comum ao gesto e ao seu sentido, por exemplo à expressão<br />

<strong>da</strong>s emoções e às próprias emoções: o sorriso, o rosto distendido,<br />

a alegria dos gestos contêm realmente o ritmo de<br />

ação, o modo de ser no mundo que são o próprio júbilo. Ao<br />

contrário, o elo entre o signo verbal e sua significação não<br />

é inteiramente fortuito, como o mostra suficientemente a existência<br />

de várias línguas? E a comunicação dos elementos <strong>da</strong><br />

linguagem entre "o primeiro homem que tenha falado" e o<br />

segundo não foi necessariamente de um tipo inteiramente diferente<br />

<strong>da</strong>quele <strong>da</strong> comunicação por gestos? É isso que se exprime<br />

ordinariamente dizendo que o gesto ou a mímica emocional<br />

são "signos naturais", a fala um "signo convencional".<br />

Mas as convenções são um modo tardio de relação entre<br />

os homens, elas supõem uma comunicação prévia, e é preciso<br />

recolocar a linguagem nessa corrente comunicativa. Se<br />

só consideramos o sentido conceituai e terminal <strong>da</strong>s palavras,<br />

é ver<strong>da</strong>de que a forma verbal — à exceção <strong>da</strong>s desinências<br />

— parece arbitrária. Não seria mais assim se levássemos em<br />

conta o sentido emocional <strong>da</strong> palavra, aquilo que mais acima<br />

chamamos de seu sentido gestual, que é essencial por exemplo<br />

na poesia. Acharíamos agora que as palavras, as vogais,<br />

os fonemas são tantas maneiras de cantar o mundo, e que<br />

eles são destinados a representar objetos, não como o acreditava<br />

a teoria ingênua <strong>da</strong>s onomatopéias, em razão de uma<br />

semelhança objetiva, mas porque eles extraem e, no sentido<br />

próprio <strong>da</strong> palavra, exprimem sua essência emocional. Se pudéssemos<br />

retirar de um vocabulário aquilo que é devido às<br />

leis mecânicas <strong>da</strong> fonética, às contaminações <strong>da</strong>s línguas estrangeiras,<br />

à racionalização dos gramáticos, à imitação <strong>da</strong> língua<br />

por si mesma, descobriríamos sem dúvi<strong>da</strong>, na origem de

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