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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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372 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

to no móbil, ele só se lê em um sentido: é no móbil que ele<br />

começa e é <strong>da</strong>li que se desdobra no campo. Não sou soberano<br />

para ver a pedra imóvel, o jardim e a mim mesmo em<br />

movimento. O movimento não é uma hipótese cuja probabili<strong>da</strong>de<br />

seja mensura<strong>da</strong>, como a <strong>da</strong> teoria física, pelo número<br />

de fatos que ela coordena. Isso só <strong>da</strong>ria lugar a um movimento<br />

possível. O m&vimento é um fato. A pedra não é pensa<strong>da</strong>,,<br />

mas vista em movimento. Pois a hipótese "é a pedra que se<br />

move" não teria nenhuma significação própria, não se distinguiria<br />

em na<strong>da</strong> <strong>da</strong> hipótese "é o jardim que se move", se<br />

o movimento, na ver<strong>da</strong>de e para a reflexão, se reconduzisse<br />

a uma simples mu<strong>da</strong>nça de relações. Portanto, ele habita a<br />

pedra. To<strong>da</strong>via, vamos <strong>da</strong>r razão ao realismo do psicólogo?<br />

Vamos colocar o movimento na pedra como uma quali<strong>da</strong>de?<br />

Ele não supõe nenhuma relação a um objeto expressamente<br />

percebido e permanece possível em um campo perfeitamente<br />

homogêneo. Mas ain<strong>da</strong> é ver<strong>da</strong>de que todo movimento é <strong>da</strong>do<br />

em um campo. Assim como precisamos de um movente<br />

no movimento, precisamos de um fundo do movimento. Errou-se<br />

ao dizer que as margens do campo visual sempre forneciam<br />

um referencial objetivo 48 . Mais uma vez, a margem<br />

do campo visual não é uma linha real. Nosso campo visual<br />

não é recortado em nosso mundo objetivo, ele não é um fragmento<br />

com margens precisas como a paisagem que se enquadra<br />

na janela. Nele nós vemos tão longe quanto se estende<br />

o poder de nosso olhar sobre as coisas — para muito além<br />

<strong>da</strong> zona de visão clara e até mesmo atrás de nós. Quando se<br />

chega aos limites do campo visual, não se passa <strong>da</strong> visão à<br />

não-visão: o fonógrafo que toca no cômodo vizinho e que não<br />

vejo expressamente ain<strong>da</strong> conta em meu campo visual; reciprocamente,<br />

aquilo que vemos é sempre, sob certos aspectos,<br />

não visto: é preciso que existam lados escondidos <strong>da</strong>s coisas<br />

e coisas "atrás de nós", se é que deva haver aqui um<br />

"diante" <strong>da</strong>s coisas, coisas "diante de nós" e enfim uma per-

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