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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 461<br />

der ser possíveis, é preciso que em algum momento a consciência<br />

deixe de saber aquilo que faz, sem o que ela teria consciência<br />

de constituir uma ilusão, não aderiria a esta, então<br />

não haveria mais ilusão — e justamente, como o dissemos,<br />

se a coisa ilusória e a coisa ver<strong>da</strong>deira não têm a mesma estrutura,<br />

para que o doente aceite a ilusão é preciso que ele<br />

esqueça ou recalque o mundo ver<strong>da</strong>deiro, que deixe de referirse<br />

a este e que pelo menos ele tenha o poder de retornar à<br />

indistinção primitiva do ver<strong>da</strong>deiro e do falso. To<strong>da</strong>via, nós<br />

não cortamos a consciência de si mesma, o que proibiria todo<br />

progresso do saber para além <strong>da</strong> opinião originária e, em<br />

particular, o reconhecimento filosófico <strong>da</strong> opinião originária<br />

como fun<strong>da</strong>mento de todo o saber. E preciso apenas que a<br />

coincidência de mim comigo, tal como se realiza no cogito,<br />

nunca seja uma coincidência real, e seja somente uma coincidência<br />

intencional e presuntiva. De fato, entre mim mesmo<br />

que acabo de pensar isto e eu que penso que o pensei,<br />

já se interpõe uma espessura de duração e sempre posso duvi<strong>da</strong>r<br />

de que este pensamento já passado era exatamente tal<br />

como eu o vejo presentemente. Por outro lado, como não tenho<br />

outro testemunho sobre meu passado senão estes testemunhos<br />

presentes, e como to<strong>da</strong>via tenho a idéia de um passado,<br />

não tenho razão em opor o irrefletido, como um incognoscível,<br />

à reflexão que faço incidir nele. Mas minha confiança<br />

na reflexão significa finalmente assumir o fato <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de<br />

e o fato do mundo enquanto quadro invariável de<br />

to<strong>da</strong> ilusão e de to<strong>da</strong> desilusão: só me conheço em minha inerência<br />

ao tempo e ao mundo, quer dizer, na ambigüi<strong>da</strong>de.

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