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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O SER-PARA-SI E O SER-NO-MUNDO 609<br />

pre pensou e disse <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. Esses motivos não anulam<br />

a liber<strong>da</strong>de, mas pelo menos fazem com que ela não esteja<br />

sem escoras no ser. Finalmente, não é uma consciência nua<br />

que resiste à dor, mas o prisioneiro com seus camara<strong>da</strong>s ou<br />

com aqueles que ele ama e sob cujo olhar ele vive, ou enfim<br />

a consciência com sua solidão orgulhosamente deseja<strong>da</strong>, quer<br />

dizer, ain<strong>da</strong> um certo modo do Mit-Sein. E sem dúvi<strong>da</strong> é o<br />

indivíduo, em sua prisão, quem revivifica a ca<strong>da</strong> dia esses<br />

fantasmas, eles lhe restituem a força que ele lhes deu, mas,<br />

reciprocamente, se ele se envolveu nesta ação, se ele ligou a<br />

estes camara<strong>da</strong>s ou aderiu a esta moral, é porque a situação<br />

histórica, os camara<strong>da</strong>s, o mundo ao seu redor lhe parecem<br />

esperar dele aquela conduta. Assim, poderíamos continuar<br />

sem fim a análise. Escolhemos nosso mundo e o mundo nos<br />

escolhe. E certo em todo caso que nunca podemos reservar<br />

em nós mesmos um reduto no qual o ser não penetra, sem<br />

que no mesmo instante, pelo único fato de que é vivi<strong>da</strong>, esta<br />

liber<strong>da</strong>de adquira figura de ser e se torne motivo e apoio. Concretamente<br />

considera<strong>da</strong>, a liber<strong>da</strong>de é sempre um encontro<br />

do exterior e do interior — mesmo a liber<strong>da</strong>de pré-humana<br />

e pré-histórica pela qual começamos —, e ela se degra<strong>da</strong> sem<br />

nunca tornar-se nula à medi<strong>da</strong> que diminui a tolerância dos<br />

<strong>da</strong>dos corporais e institucionais de nossa vi<strong>da</strong>. Existe, como<br />

diz Husserl, um "campo <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de" e uma "liber<strong>da</strong>de condiciona<strong>da</strong>"<br />

7 , não que ela seja absoluta nos limites deste campo<br />

e nula no exterior — assim como o campo perceptivo, este<br />

não tem limites lineares —, mas porque tenho possibili<strong>da</strong>des<br />

próximas e possibili<strong>da</strong>des remotas. Nossos envolvimentos<br />

sustentam nossa potência e não há liber<strong>da</strong>de sem alguma<br />

potência. Nossa liber<strong>da</strong>de, diz-se, ou é total ou nula. Este dilema<br />

é o dilema do pensamento objetivo e <strong>da</strong> análise reflexiva,<br />

sua cúmplice. Se com efeito nós nos situamos no ser, necessariamente<br />

é preciso que nossas ações provenham do exterior;<br />

se retornamos à consciência constituinte, é preciso que

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