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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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118 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

animal existe, que ele tem um mundo ou que ele épara um mundo,<br />

não se quer dizer que ele tenha percepção ou consciência<br />

objetiva desse mundo. A situação que desencadeia as operações<br />

instintivas não está inteiramente articula<strong>da</strong> e determina<strong>da</strong>,<br />

o sentido total não é possuído, como o mostram muito<br />

bem os erros e a cegueira do instinto. Ela só oferece uma significação<br />

prática, só convi<strong>da</strong> a um reconhecimento corporal,<br />

ela é vivi<strong>da</strong> como situação "aberta", e pede os movimentos<br />

do animal assim como as primeiras notas <strong>da</strong> melodia pedem<br />

um certo modo de resolução sem que ele seja conhecido por<br />

si mesmo, e é justamente isso que permite aos membros<br />

substituírem-se um ao outro, serem equivalentes diante <strong>da</strong> evidência<br />

<strong>da</strong> tarefa. Se ele ancora o sujeito em um certo "meio",<br />

o "ser no mundo" seria algo como a "atenção à vi<strong>da</strong>" de<br />

Bergson ou como a "função do real" de P. Janet? A atenção<br />

à vi<strong>da</strong> é a consciência que tomamos de "movimentos nascentes"<br />

em nosso corpo. Ora, movimentos reflexos, esboçados<br />

ou realizados, ain<strong>da</strong> são apenas processos objetivos dos quais<br />

a consciência pode constatar o desenrolar e os resultados, mas<br />

nos quais ela não está engaja<strong>da</strong> 19 . Na reali<strong>da</strong>de, os próprios<br />

reflexos nunca são processos cegos: eles se ajustam a um "sentido"<br />

<strong>da</strong> situação, exprimem nossa orientação para um "meio<br />

de comportamento" tanto quanto a ação do "meio geográfico"<br />

sobre nós. Eles desenham, à distância, a estrutura do objeto,<br />

sem esperar suas estimulações pontuais. É essa presença<br />

global <strong>da</strong> situação que dá um sentido aos estímulos parciais<br />

e que os faz contar, valer ou existir para o organismo. O reflexo<br />

não resulta de estímulos objetivos, ele se volta para eles,<br />

investe-os de um sentido que eles não receberam um a urn<br />

e como agentes físicos, que eles têm apenas enquanto situação.<br />

Ele os faz ser como situação, está com eles em uma relação<br />

de "conhecimento", quer dizer, indica-os como aquilo<br />

que ele está destinado a afrontar. O reflexo, enquanto se abre<br />

ao sentido de uma situação, e a percepção, enquanto não põe

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