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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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308 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

então explicá-lo sem tocar no conceito de sensação; será preciso,<br />

por exemplo, supor que as excitações ordinariamente<br />

circunscritas a uma região do cérebro — zona ótica ou zona<br />

auditiva — tornam-se capazes de intervir fora desses limites,<br />

e que assim à quali<strong>da</strong>de específica acha-se associa<strong>da</strong> uma quali<strong>da</strong>de<br />

não-específica. Quer tenha ou não ao seu favor argumentos<br />

de fisiologia cerebral 46 , essa explicação não dá conta<br />

<strong>da</strong> experiência sinestésica, que se torna assim uma nova ocasião<br />

de colocar em questão o conceito de sensação e o pensamento<br />

objetivo. Pois o sujeito não nos diz apenas que ele tem ao<br />

mesmo tempo um som e uma cor: é o próprio som que ele vê no lugar<br />

em que se formam as cores i7 . Essa fórmula é literalmente desprovi<strong>da</strong><br />

de sentido se se define a visão pelo quale visual, o som<br />

pelo quale sonoro. Mas cabe a nós construir nossas definições<br />

de maneira a encontrar-lhe um, já que a visão dos sons ou<br />

a audição <strong>da</strong>s cores existem como fenômenos. E eles não são<br />

nem mesmo fenômenos excepcionais. A percepção sinestésica<br />

é a regra, e, se não percebemos isso, é porque o saber científico<br />

desloca a experiência e porque desaprendemos a ver,<br />

a ouvir e, em geral, a sentir, para deduzir de nossa organização<br />

corporal e do mundo tal como o concebe o físico aquilo<br />

que devemos ver, ouvir e sentir. A visão, diz-se, só pode apresentar-nos<br />

cores ou luzes, e com elas formas, que são os contornos<br />

<strong>da</strong>s cores, e movimentos, que são as mu<strong>da</strong>nças de posição<br />

<strong>da</strong>s manchas de cor. Mas como situar na escala <strong>da</strong>s cores<br />

a transparência ou as cores "turvas"? Na reali<strong>da</strong>de, ca<strong>da</strong><br />

cor, no que ela tem de mais íntimo, não é senão a estrutura<br />

interior <strong>da</strong> coisa manifesta<strong>da</strong> no exterior. O brilho do<br />

ouro apresenta-nos sensivelmente sua composição homogênea,<br />

a cor embaça<strong>da</strong> <strong>da</strong> madeira apresenta-nos a sua composição<br />

heterogênea 48 . Os sentidos comunicam-se entre si e<br />

abrem-se à estrutura <strong>da</strong> coisa. Vemos a rigidez e a fragili<strong>da</strong>de<br />

do vidro e, quando ele se quebra com um som cristalino,<br />

este som é trazido pelo vidro visível 49 . Vemos a elastici<strong>da</strong>de

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