12.04.2013 Views

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

Fenomenologia da Percepção - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

OS PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS 65<br />

e, com ela, o juízo que forma a segun<strong>da</strong>. Construímos a ilusão,<br />

não a compreendemos. O juízo, neste sentido muito geral<br />

e inteiramente formal, só explica a percepção ver<strong>da</strong>deira<br />

ou falsa se ele se guia pela organização espontânea e pela configuração<br />

particular dos fenômenos. É ver<strong>da</strong>de que a ilusão<br />

consiste em inscrever os elementos principais <strong>da</strong> figura nas<br />

relações auxiliares que apagam o paralelismo. Mas por que<br />

elas o apagam? Por que duas retas até então paralelas deixam<br />

de fazer par e são leva<strong>da</strong>s a uma posição oblíqua pela çj<br />

vizinhança imediata que lhes <strong>da</strong>mos? Tudo se passa como se H<br />

elas não fizessem mais parte do mesmo mundo. Duas oblí- t 6<br />

quas ver<strong>da</strong>deiras estão situa<strong>da</strong>s no mesmo espaço que é o es- •-, J.<br />

paço objetivo. Mas elas não se inclinam em ato uma em di- j^ c/,<br />

reção à outra, é impossível vê-las oblíquas se as fixamos. E ti<br />

quando as tiramos do olhar que elas tendem sur<strong>da</strong>mente pa- |; •<br />

ra essa nova relação. Existe ali, para aquém <strong>da</strong>s relações ob- ^ J : 'V<br />

jetivas, uma sintaxe perceptiva que se articula segundo re- !.-'• ;.'•<br />

gras próprias: a ruptura <strong>da</strong>s relações antigas, o estabelecimen- * o<br />

to de relações novas, o juízo exprimem apenas o resultado ~>.<br />

dessa operação profun<strong>da</strong> e são sua constatação final. Falsa ' ;<br />

ou ver<strong>da</strong>deira, é assim que a percepção deve primeiramente<br />

se constituir para que uma predicação seja possível. E ver<strong>da</strong>de<br />

que a distância de um objeto ou seu relevo não são proprie<strong>da</strong>des<br />

do objeto assim como sua cor ou seu peso. É ver<strong>da</strong>de<br />

que elas são relações inseri<strong>da</strong>s em uma configuração de<br />

conjunto que, aliás, envolve o peso e a cor eles mesmos. Mas<br />

não é ver<strong>da</strong>de que essa configuração seja construí<strong>da</strong> por uma<br />

"inspeção do espírito". Isso seria dizer que o espírito percorre<br />

impressões isola<strong>da</strong>s e descobre pouco a pouco o sentido<br />

do todo, assim como o cientista determina as incógnitas em<br />

função dos <strong>da</strong>dos do problema. Ora, aqui os <strong>da</strong>dos do problema<br />

não são anteriores à sua solução, e a percepção é justamente<br />

este ato que cria de um só golpe, com a constelação

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!