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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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38 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

uma maneira de sentir. Se os três pontos A, B e C estão em<br />

um círculo, o trajeto AB "assemelha-se" ao trajeto BC, mas<br />

essa semelhança significa apenas que um leva a pensar no outro.<br />

O trajeto A, B, C assemelha-se a outros trajetos circulares<br />

que meu olhar seguiu, mas isso significa apenas que ele<br />

desperta sua recor<strong>da</strong>ção e faz aparecer sua imagem. Dois termos<br />

nunca podem ser identificados, percebidos ou compreendidos<br />

como o mesmo, o que suporia que sua eccei<strong>da</strong>de é ultrapassa<strong>da</strong>;<br />

eles só podem ser indissoluvelmente associados e em<br />

to<strong>da</strong>s as partes substituídos um pelo outro. O conhecimento<br />

aparece como um sistema de substituições em que uma impressão<br />

anuncia outras sem nunca <strong>da</strong>r razão delas, em que<br />

palavras levam a esperar sensações, assim como a tarde leva<br />

a esperar a noite. A significação do percebido é apenas uma<br />

constelação de imagens que começam a reaparecer sem razão.<br />

As imagens ou as sensações mais simples são, em última<br />

análise, tudo o que existe para se compreender nas palavras,<br />

os conceitos são uma maneira complica<strong>da</strong> de designá-las, e,<br />

como elas mesmas são impressões indizíveis, compreender é<br />

uma impostura ou uma ilusão, o conhecimento nunca tem<br />

domínio sobre seus objetos, que se ocasionam um ao outro,<br />

e o espírito funciona como uma máquina de calcular 2 que<br />

não sabe por que seus resultados são ver<strong>da</strong>deiros. A sensação<br />

não admite outra filosofia senão o nominalismo, quer dizer,<br />

a redução do sentido ao contra-senso <strong>da</strong> semelhança confusa,<br />

ou ao não-senso <strong>da</strong> associação por contigüi<strong>da</strong>de.<br />

Ora, as sensações e as imagens que deveriam iniciar e<br />

terminar todo conhecimento aparecem sempre em um horizonte<br />

de sentido, e a significação do percebido, longe de resultar<br />

de uma associação, está ao contrário pressuposta em<br />

to<strong>da</strong>s as associações, quer se trate <strong>da</strong> sinopse de uma figura<br />

presente ou <strong>da</strong> evocação de experiências antigas. Nosso campo<br />

perceptivo é feito de "coisas" e de "vazios entre as coisas" 3 .<br />

As partes de uma coisa não estão liga<strong>da</strong>s entre si por uma

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