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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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550 FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO<br />

demos dizer <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de aquilo que acima dissemos, por<br />

exemplo, <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> espaciali<strong>da</strong>de: a existência não<br />

pode ter atributo exterior ou contingente. Ela não pode ser<br />

o que quer que seja — espacial, sexual, temporal — sem sêlo<br />

por inteiro, sem retomar e assumir seus "atributos" e fazer<br />

deles dimensões de seu ser, de forma que uma análise um<br />

pouco precisa de ca<strong>da</strong> um deles na reali<strong>da</strong>de diz respeito à<br />

própria subjetivi<strong>da</strong>de. Não existem problemas dominantes e<br />

problemas subordinados: todos os problemas são concêntricos.<br />

Analisar o tempo não é tirar as conseqüências de uma<br />

concepção preestabeleci<strong>da</strong> <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de, é ter acesso, através<br />

do tempo, à sua estrutura concreta. Se conseguirmos compreender<br />

o sujeito, não será em sua pura forma, mas procurando-o<br />

na intersecção de suas dimensões. Portanto, precisamos<br />

considerar o tempo em si mesmo, e é seguindo a sua<br />

dialética interna que seremos conduzidos a refazer nossa idéia<br />

do sujeito.<br />

Diz-se que o tempo passa ou se escoa. Fala-se do curso<br />

do tempo. A água que vejo passar preparou-se, há alguns dias,<br />

nas montanhas, quando a geleira derreteu; no presente ela<br />

está diante de mim, ela vai em direção ao mar onde se lançará.<br />

Se o tempo é semelhante a um rio, ele escoa do passado<br />

em direção ao presente e ao futuro. O presente é a conseqüência<br />

do passado, e o futuro a conseqüência do presente. Essa<br />

célebre metáfora é na reali<strong>da</strong>de muito confusa. Pois, a considerar<br />

as próprias coisas, a fusão <strong>da</strong>s neves e aquilo que <strong>da</strong>í resulta<br />

não são acontecimentos sucessivos, ou, antes, a própria<br />

noção de acontecimento não tem lugar no mundo objetivo.<br />

Quando digo que anteontem a geleira produziu a água que<br />

passa presentemente, eu subentendo um testemunho sujeito<br />

a um certo lugar no mundo e comparo suas visões sucessivas:<br />

ele assistiu ali à fusão <strong>da</strong>s neves e seguiu a água em sua<br />

que<strong>da</strong>, ou então, <strong>da</strong> margem do rio, ele vê passar, depois de<br />

dois dias de espera, os pe<strong>da</strong>ços de madeira que havia jogado

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