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Fenomenologia da Percepção - Charlezine

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O MUNDO PERCEBIDO 487<br />

riador recoloca o acontecimento singular na linha geral do<br />

declínio do Império. A ver<strong>da</strong>deira Waterloo não está nem naquilo<br />

que Fabrício, nem naquilo que o Imperador, nem naquilo<br />

que o historiador vêem, ela não é um objeto determinável,<br />

ela é aquilo que advém nos confins de to<strong>da</strong>s as perspectivas<br />

e <strong>da</strong> qual to<strong>da</strong>s estas são extraí<strong>da</strong>s 6 . O historiador ou<br />

o filósofo procuram uma definição objetiva <strong>da</strong> classe ou <strong>da</strong><br />

nação: a nação estaria fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na língua comum ou nas concepções<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>? A classe estaria fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no montante dos<br />

rendimentos ou na posição no circuito <strong>da</strong> produção? Sabe-se<br />

que de fato nenhum desses critérios permite reconhecer se um<br />

indivíduo depende de uma nação ou de uma classe. Em to<strong>da</strong>s<br />

as revoluções, há privilegiados que se juntam à classe revolucionária<br />

e oprimidos que se devotam aos privilegiados.<br />

E ca<strong>da</strong> nação tem seus traidores. Isso ocorre porque a nação<br />

ou a classe não são nem fatali<strong>da</strong>des que submetam o indivíduo<br />

do exterior, nem tampouco valores que ele ponha do interior.<br />

Elas são modos de coexistência que o solicitam. Em<br />

período calmo, a nação e a classe estão ali como estímulos aos<br />

quais eu só dirijo respostas distraí<strong>da</strong>s ou confusas, elas estão<br />

latentes. Uma situação revolucionária ou uma situação de perigo<br />

nacional transformam em toma<strong>da</strong> de posição consciente<br />

as relações pré-conscientes com a classe e com a nação que<br />

até então eram apenas vivi<strong>da</strong>s, o engajamento tácito tornase<br />

explícito. Mas ele se manifesta a si mesmo como anterior<br />

à decisão.<br />

O problema <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de existencial do social reúne<br />

aqui todos os problemas <strong>da</strong> transcendência. Quer se trate de<br />

meu corpo, do mundo natural, do passado, do nascimento<br />

ou <strong>da</strong> morte, a questão é sempre a de saber como posso ser<br />

aberto a fenômenos que me ultrapassam e que, to<strong>da</strong>via, só<br />

existem na medi<strong>da</strong> em que os retomo e os vivo, como a presença<br />

a mim mesmo (Urprãsenz), que me define e condiciona to<strong>da</strong><br />

presença alheia, é ao mesmo tempo uma des-presentação (Ent-

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